Pelo menos 15 pais de crianças atendidas pelo suspeito já foram à polícia.
Falso médico foi preso em flagrante na sexta-feira (26).
A dona de casa Luciene Santos, mãe de um bebê de 11 meses, diz que o falso médico Marcel Carlos Nery machucou o seu filho durante uma consulta realizada no mês de fevereiro, no Hospital Mogi D'or, em Mogi das Cruzes, Região Metropolitana de São Paulo.
De acordo com a mãe, Nery estava substituindo o médico que estava tratando da criança. "Meu filho começou a chorar e eu disse para o doutor se acalmar. Ele respondeu que sabia o que estava fazendo", diz a mãe.
Depois disso, ela fez uma denúncia contra o médico no Conselhor Regional de Medicina (CRM). "Eu achei o cúmulo. A gente paga um hospital particular para ter mais segurança e acontece uma coisa dessa. Toda vez que vamos entrar em uma empresa precisamos fazer uma entrevista rigorosa. Não sei como este médico conseguiu entrar nesse hospital", diz a dona de casa.
Segundo a mãe, depois do ferimento durante a consulta, a criança se recuperou. Segundo a polícia, cerca de 15 pais de crianças atendidas pelo falso médico já prestarem queixa na delegacia. Nesta quinta-feira (2), Nery foi transferido para o Centro de Detenção Provisória. Ainda segundo a polícia, o advogado dele entrou com um pedido de liberdade na Justiça.
O caso
O falso médico foi preso na sexta-feira (26) no momento que atendia um paciente no Hospital Materno Infantil Mogi D'or, no Centro. Segundo a polícia, Marcel Carlos Nery se passava por pediatra e usava o nome de um médico de São Paulo há pelo menos um ano.
Para trabalhar em Mogi, o suposto pediatra usava o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) do médico Marcel Deligi. Os policiais chegaram até ele por meio do advogado do verdadeiro doutor Deligi.
O defensor do verdadeiro médico, Alan Luchiari, veio ao município na sexta-feira (26) verificar uma sindicância aberta contra seu cliente na delegacia regional do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). "No começo da semana meu cliente foi chamado para prestar esclarecimentos em uma sindicância que investiga maus procedimentos. Quando fui até o hospital particular verifiquei que o pediatra de plantão era o Dr. Marcel Deligi, então chamei a polícia e ele foi preso."
De acordo com Luchiari, a identidade de seu cliente vem sendo usada pelo menos desde março de 2012, quando chegaram as primeiras notificações da polícia. "Fomos chamados em Mongaguá para esclarecer uma ocorrência de agressão verbal contra uma enfermeira do hospital da cidade. Porém, o doutor Deligi nunca clinicou fora de São Paulo e sua especialidade é em medicina do trabalho. Quando ele se apresentou, a enfermeira agredida não o reconheceu. Foi ai que descobrimos que alguém estava usando seu CRM."
Ao ser levado ao 1º Distrito Policial, no Parque Monte Líbano, o falso médico se recusou a dizer seu verdadeiro nome e tirar as impressões digitais para reconhecimento. Na maleta que estava com ele, não havia nenhum documento. A polícia encontrou apenas avental, aparelhos médicos como estetoscópio, o carimbo e uma receita do dia 20 de abril com a assinatura em nome de Marcel Deligi.
Após cruzar as digitais do suposto médico com o sistema da Polícia Civil de São Paulo, ele foi identificado como Marcel Carlos Nery, de 46 anos, natural de São Paulo. Segundo a polícia, não há nenhum registro com esse nome no sistema do Conselho Regional de Medicina.
De acordo com o delegado de plantão, Eduardo Peretti Guimarães, o falso médico foi preso em flagrante e indiciado por dois crimes: exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. Segundo a Polícia Civil, ele ficará preso na cadeia pública de Mogi até ser transferido para o Centro de Detenção Provisória do Taboão.
O advogado de Nery, Rogério Carlos Moreira, explicou que seu cliente optou por falar somente em juízo. Embora não tenha registro Nery tem formação médica, afirmou Moreira.
Ele confirmou também que o cliente está preso na cadeia de Mogi sem direito a fiança. “Na manhã deste sábado (27) vou me informar com o pai dele sobre onde ele cursou medicina, por que não terminou, por que não tem CRM e por que ele fazia atendimento sem CRM”, disse o defensor.
Por telefone, representante do Hospital Mogi D'Or informou que a direção está apurando o caso e, por enquanto, não tem nada a declarar.
Justiça
Ao ser informado por seu advogado da prisão do farsante, o verdadeiro doutor Marcel Deligi veio até Mogi das Cruzes prestar depoimento. Deligi confessou estar bastante aliviado. "Há cerca de um ano fui surpreendido quando fiquei sabendo que alguém estava se passando por mim para exercer a medicina. Nunca trabalhei fora de São Paulo. O importante é que agora tudo será esclarecido."
Fonte: Globo.com
- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.
