Painel de especialistas divulga parecer contrário à indicação do teste para pessoas sem sintomas cardíacos
Médicos americanos do U.S. Preventive Services Task Force divulgaram um parecer contrário ao pedido de teste de esteira em check-ups para pessoas sem sintomas de doença cardíaca.
A força-tarefa é formada por especialistas em prevenção que fazem recomendações quanto ao rastreamento de doenças em pessoas sem sintomas após extensa revisão de estudos publicados.
O mesmo grupo divulgou, no ano passado, uma recomendação contra a realização de exame de sangue para detectar câncer de próstata (PSA) como teste de rotina.
Segundo as recomendações dos médicos, publicadas ontem no periódico ``Annals of Internal Medicine``, adultos sem diagnóstico ou sintomas de doença cardíaca (como dor no peito) e com baixo risco de ter algum problema cardiovascular não devem se submeter ao teste de esforço. O risco é definido por vários fatores, como pressão alta, tabagismo, idade avançada, obesidade e diabetes.
MAIS DANOS
O teste pode, inclusive, trazer mais problemas do que benefícios para a população com pouca probabilidade de ter uma doença cardíaca, afirma o grupo de especialistas.
Um resultado que indica uma doença inexistente pode levar a exames invasivos e tratamentos desnecessários, sem contar o medo e a ansiedade que podem afastar as pessoas da atividade física.
Segundo Armando Norman, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina da Família, o teste de esforço na esteira é de baixa qualidade em pessoas assintomáticas.
``Tem pouca sensibilidade e especificidade. Se usam o teste de forma irresponsável, as pessoas correm o risco de ser rotuladas como cardíacas e ter o senso de saúde plena abalada com a possibilidade da doença``, afirma.
Já na população de risco moderado e alto, o relatório afirma que as evidências são insuficientes para apontar os benefícios e danos do teste.
Isso significa que o médico deve avaliar caso a caso para indicar o exame.
Mas, de acordo com Carlos Hossri, cardiologista do HCor (Hospital do Coração), os médicos da força-tarefa se baseiam em uma visão errada ao fazer tal recomendação.
``Eles não consideram grandes estudos epidemiológicos e diretrizes que mostram os benefícios do teste na população de maior risco.``
Hossri diz que o teste é indicado para pessoas de alto risco, com histórico familiar e que vão iniciar uma atividade física, mesmo sem sintomas de doença cardíaca.
``É uma ferramenta útil que orienta o prognóstico, e só quem não é do `métier` para falar que não tem validade.``
Já Norman diz que, mesmo ao iniciar a atividade física, a história clínica pode ser mais importante, e deve prevalecer o bom senso de começar de forma moderada.
``Hoje há uma epidemia de check-up. A pessoa não tem doença nem sintoma, mas busca segurança na tecnologia para dizer que está bem.``
Fonte: Folha de S.Paulo / MARIANA VERSOLATO
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.