Pesquisas comprovam benefícios do monitoramento remoto de pacientes, mas EUA ainda reluta em adotar tecnologia
Quanta prova mais é necessária? Essa é a pergunta que os defensores da telemedicina devem se fazer enquanto observam as rodas da burocracia processarem lentamente o necessário para colocar a infraestrutura em ordem para tornar o monitoramento e interação remota com o paciente uma realidade. Dada a montanha de evidências sobre o valor da telemedicina, deveríamos todos estar impacientes.
O estudo mais recente, publicado no Journal of the American Medical Association, descobriu que pacientes com hipertensão fora de controle que receberam um monitor caseiro de pressão para transmitir as aferições de suas pressões sanguíneas para farmacêuticos – que então ajustam suas medicações conforme necessário – tiveram melhores resultados do que o grupo de controle que recebeu tratamento de rotina.
Comparados com aqueles no grupo de controle, os pacientes usando os dispositivos de telemonitoramento viram uma queda em média de 10mm Hg em pressão sistólica durante seis meses. E, mesmo após os farmacêuticos pararem de ajustar suas medicações no final do ano, os benefícios persistiram. No acompanhamento de 18 males, os pacientes “conectados” ainda estavam 6,6mm Hg à frente dos pacientes do grupo de controle. A equipe de pesquisa usou um monitor de aferição e pressão caseiro que armazenava e transmitia as leituras para um site seguro através do modem, e os farmacêuticos consultavam os pacientes por telefone a cada duas semanas.
Esse é apenas um dos inúmeros estudos que comprovam o valor da telemedicina. Um relatório recente do Journal of Medical Internet Research concluiu que recém-nascidos de baixo-risco que receberam alta de um hospital espanhol se recuperaram melhor quando foram telemonitorados, em oposto aos que foram monitorados com a visita padrão ao hospital 48 horas após a alta. Quase 16% dos 114 bebês que tiveram o cuidado padrão pós-alta retornaram ao pronto socorro dentro de um mês após seu nascimento, enquanto apenas 5,6% dos 90 bebês que foram telemonitorados. A abordagem de telemonitoramento foi também bem menos custosa – o acompanhamento em hospitais custa em média 182,1 euros por paciente, enquanto o acompanhamento por internet custa apenas 86,1 euros.
Os pais no grupo do telemonitoramento receberam instruções em como usar os sites especialmente projetados e respondiam, duas vezes por semana, questionários sobre a saúde de seus bebês. Se as enfermeiras percebessem alguma anormalidade nesses relatórios, entravam em contato com a família por meio de e-mail ou telefone para resolver o problema.
Infelizmente, as pesquisas com ótimos resultados não são o suficiente para fazer com que os Estados Unidos embarque no bonde da telemedicina. Os dois pontos principais para os médicos que querem praticar a telemedicina são a cobertura dos seguros e licenças.
Muitos seguros de saúde ainda vivem na Idade da Pedra e não veem o valor na cobertura desses serviços. E muitas leis estaduais também ainda não reconhecem este valor. Um resultado positivo aconteceu em abril, quando o Novo México se tornou o décimo sétimo estado a exigir que seguradoras privadas cubram serviços de telemedicina “na mesma medida que o serviço seria coberto se fosse fornecido em pessoa”, de acordo com a American Telemedicine Association (Associação Americana de Telemedicina). Mas fazendo uma verificação rápida na lista de estados pendentes da ATA, percebe-se que muitos dos estados estão com abordagem lenta, ou apenas fornecendo serviços limitados de telemedicina. Inúmeros projetos morreram nas sessões.
E há maiores complicações, mesmo quando o estado fornece a cobertura necessária do seguro os médicos precisam evitar a prática da medicina fora do estado (ou estados) no qual são licenciados. O propósito geral do monitoramento remoto ainda é dar aos pacientes acesso aos médicos, independentemente de onde estejam localizados fisicamente. É uma lei que se tornou um pesadelo e que precisa desesperadamente ser adequada.
O judiciário e o legislativo que cria e executa as leis precisam ser informados das pesquisas que provam que a telemedicina é parte da solução para o colapso da saúde nos EUA. Já esperamos demais.
*Por Paul Cerrato, da Information Week Healthcare USA
Tradução: Alba Milena, especial para o Information Week Brasil
Fonte: SaúdeWeb
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.