O estudo “O Impacto da Desrespeito na equipe de Desempenho de Medicina: um estudo randomizado” (The Impact of Rudeness on Medical Team Performance: A Randomized Trial), publicado na edição de setembro da Revista Pediatrics, mostra que um comentário grosseiro de um médico a terceiros leva à diminuição do desempenho entre os médicos e enfermeiros por mais de 50%, em um exercício envolvendo uma situação hipotética de vida ou morte. Os danos causados por atitudes rudes impactam na capacidade de pensar, gerenciar informações e tomar decisões, impactando na segurança dos pacientes. A grosseria pode ser a base de deficiências de desempenho, com indivíduos expostos a comportamento rude tornando-se menos úteis e cooperativos.
O objetivo do estudo foi explorar o impacto da grosseria sobre o desempenho das equipes médicas. Vinte e quatro equipes da UTI Neonatal participaram do estudo. Os participantes foram informados de que um especialista estrangeiro iria observá-los. As equipes foram aleatoriamente designadas para a exposição à grosseria (em que os comentários do perito incluíram declarações levemente rudes) ou controle (comentários neutros). As sessões de simulação em vídeo foram avaliadas por 3 juízes independentes (cegos para a equipe em exposição) que usaram questionários estruturados para avaliar o desempenho da equipe e o compartilhamento de informações.
As pontuações de desempenho de diagnóstico e processuais compósitos foram menores para os membros das equipes expostos à grosseria do que para os membros das equipes de controle (2,6 vs 3,2 [P = 0,005] e 2,8 vs 3,3 [P = 0,008], respectivamente). O desrespeito, por si só, explicou quase 12% da variação no desempenho diagnóstico e processual.
A grosseria teve efeitos dramáticos. As equipes que a experimentaram se esforçavam para colaborar, comunicar e fazer o seu trabalho de forma eficaz, o que fez seu desempenho cair: eles tiveram erros em diagnosticar uma doença, esqueceram instruções, não ventilaram o paciente bem, não ressuscitar adequadamente, não pediram ajuda quando precisavam; médicos pediram medicação errada, e enfermeiros misturaram o medicamento errado. No geral, os comentários rudes pareceram causar uma diferença de 52% em quão bem as equipes diagnosticaram a doença, medida por três juízes independentes que eram cegos para a tese do estudo, e uma diferença de 43% em quão bem eles trataram.
No mundo real, como o autor apontou, estas discrepâncias de desempenho poderiam ter feito a diferença entre a vida e morte do paciente. Isto pode parecer dramático, mas é bem em linha com pesquisas anteriores sobre o assunto. Estes estudos sugerem que comportamentos disruptivos como grosseria são muito poderosos, porque eles se espalham como um contágio e sabotam a memória de trabalho de uma pessoa, que desempenha um papel crucial na nossa capacidade para aprender, ter razão, compreender e recordar informações.
Quando comportamentos disruptivos causam a falha desses recursos mentais, as equipes médicas estão colocando pacientes em risco, porque os membros da equipe estão fisicamente incapazes de se concentrar após o comentário rude. É preocupante, ressaltou o autor, dada a alta frequência com que os trabalhadores médicos passam pela experiência da grosseria causada por estresse, exaustão e falta de comunicação. Por exemplo, um estudo de 2010 mostra quase dois terços dos profissionais de saúde em salas de cirurgia têm testemunhado comportamento rude.
Os autores concluem que os hospitais precisam tomar uma postura mais agressiva contra comportamentos rudes entre a equipe médica e os médicos precisam considerar os efeitos a longo prazo de agir rudemente em direção ao outro. Porque, como se vê, estas ofensas diárias poderia ser catastróficas para os pacientes.
Referência: Arieh, R. et al. The Impact of Rudeness on Medical Team Performance: A Randomized Trial. Pediatrics. Sep 2015. V.136 / Issue 3
Fonte: IBES (Instituto Brasileiro para Excelência em Saúde)
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.