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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Mulher morre 3 dias após passar mal e questionar alta de hospital no RJ

Elizangela chegou com dores no peito e plantonista alegou 'frescura'.
Técnica de enfermagem trabalhava no próprio hospital, que abriu inquérito.


A técnica em enfermagem Elizangela Medeiros Gonçalves, de 35 anos, morreu nesta segunda-feira (2), três dias após passar mal e buscar atendimento no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes (HEAPN), em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mesmo lugar onde ela trabalhava. A família alega negligência no atendimento e a própria Elizangela havia questionado a alta médica em um áudio enviado por Whatsapp.

A mulher sentiu dores no peito e dificuldade para respirar na noite do dia 29 de outubro. Éder Gil Moreira, marido dela, disse que chegou por volta das 5h30 do dia 30 no hospital, mas que ela só recebeu atendimento duas horas depois.

Segundo ele, o médico de plantão, identificado como Sebastião, teria alegado que ela “estava de frescura” e teria proibido que outros funcionários atendessem a paciente.

“Na quinta-feira, ela passou mal em casa, ai [sexta] de madrugada levei para o hospital. Ela estava de folga. Quando chegamos lá, os recepcionistas foram ótimos. Quando o médico chegou, disse que ela estava de frescura, que ela estava tentando armar para pegar dias de atestado. Como uma pessoa de folga vai de madrugada procurar um atestado?", questionou.

"O médico proibiu a equipe de colocar a mão nela, disse que quem botasse a mão nela ia para o livro e seria advertido pela coordenadora. Esperaram o plantão do médico virar para ela ser atendida. Eu cheguei 5h30 da manhã e ela só foi atendida 7h30 da manhã”, afirmou.

Após ser avaliada por outro médico, Elizangela recebeu alta e voltou para casa. Familiares contaram ao G1 que a técnica em enfermagem não conseguia andar, mesmo após ter sido liberada da unidade. Na segunda-feira (2), ela foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) após passar mal novamente e morreu.

“A gente socorreu ela na UPA, ela teve um infarto e uma parada cardíaca. Tentaram reanimar, mas não adiantou nada. Já era tarde, não tinha muito o que fazer. Ela foi com a mãe e o pai porque eu estava no meio da Avenida Brasil, voltando do trabalho. O que tinha que ser feito, tinha que ser feito quando buscamos o primeiro atendimento. Ela dava a vida por aquele hospital, ela mesmo falava: ‘eu cuido dos meus pacientes porque quero ver eles bem'. Agora, na hora dela, acontece isso. Foi negligência, falta de amor humano, falta de amor ao próximo, o médico que faz isso não está ali para salvar vidas, está ali pelo dinheiro”, disse o marido.

A certidão de óbito da técnica em enfermagem diz que a causa da morte é "indeterminada, hipertensão arterial sistêmica".

O marido de Elizângela não se conforma com o que aconteceu e contou ainda que a esposa iria se formar em dois anos e estava empolgada para se tornar enfermeira. “O sonho dela era terminar a faculdade dela, ia terminar em dois anos e estava animada. Nós tínhamos planos e acabou tudo.
Tínhamos dois filhos e ela deixou duas sementes para mim”, lamentou Éder. Ele afirma que cogitou a possibilidade de levá-la ao Hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, no Subúrbio do Rio, mas que depois achou melhor levá-la no hospital onde ela trabalhava.

A mãe de Elizângela, Luzia, disse que a filha comentava que Sebastião, médico de plantão, ficava nervoso e reclamava quando tinha de ser acordado para atender pacientes. Segundo ela, ele só ficava dormindo.

O irmão de Elizângela, Diego, contou que acompanhou o martírio da irmã e que agora só espera que seja feita justiça e que o médico seja punido para que não faça com mais nenhum paciente o que fez com a técnica em enfermagem.

'Não quero morrer'
Um áudio enviado por Elizangela a seus amigos de profissão relata os momentos em que ela ficou no hospital onde trabalhava. No arquivo, Elizangela reclama do atendimento recebido e diz que não quer morrer.

"Quando eu cheguei pela manhã, o doutor Sebastião me fez um Diazepam e disse que eu estava com uma crise nervosa e eu estava dispneica, cansada, pálida, sem conseguir falar. Eu era pra ter ido direto pra vermelha e ele botou DZP, um negócio assim. Foi como se eu não tivesse nada, fosse frescura. Não deixou ninguém me botar no O² e disse que se alguém me botar no O² que ele ia relatar no livro e a equipe toda ia levar ao superior. Renato da vermelha enfermeira foi lá e ele não deixou me tirar dali. Eu fiquei até as 7h esperando alguém para me colocar no oxigênio e eu vou te falar que foi Deus que me deu força para eu suportar porque mais um pouquinho eu não ia aguentar nesse intervalo esperando outro médico. Eu poderia morrer de falta de ar, de oxigênio, porque até para ir no raio X eu tive que ir de ‘bola de oxigênio’ e pra ir no banheiro eu já não estou conseguindo. E pra ficar internada para esses médicos fazerem pouco caso, me tratar como um lixo e eu trato os pacientes como prioridade. Eu não quero morrer. Para morrer ai, eu prefiro morrer em casa", disse Elizangela no áudio.

Hospital apura episódio
A direção do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes informou que Elizangela deu entrada na unidade às 05h47 do dia 30, com queixa de dores no peito e falta de ar, sendo imediatamente acolhida e atendida.

Já às 5h55 ela foi medicada, após exames clínicos, em que foram constatadas pressão arterial levemente alta e taquicardia discreta. Em seguida, solicitaram exames de eletrocardiograma e dosagem de enzimas cardíacas, permanecendo em observação clínica.

Elizangela voltou a ser examinada pelo corpo clínico, às 7h30, passando por terapia com oxigênio e medicações para controle da dor. Ela ficou em observação até às 15h30, quando recebeu alta médica.

A direção informou ainda que deu início a uma apuração para avaliar se houve algum desvio de conduta dos profissionais que a atenderam. Caso as denúncias sejam comprovadas, serão estipuladas as punições cabíveis. A direção se solidarizou com a família e colegas de trabalho, se disponibilizando a esclarecer dúvidas sobre o atendimento à paciente.

Coren notificou enfermeiros
Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro informou que fiscalizou, na tarde desta quarta-feira (4), as unidades de saúde por onde passou a técnica de enfermagem Elizângela Medeiros para apurar se houve alguma irregularidade no âmbito da enfermagem. Segundo o órgão, “os enfermeiros responsáveis técnicos foram notificados e deverão responder ao Coren-RJ sobre os fatos ocorridos”. Um parecer deverá ser emitido pelo Conselho após a investigação.

Fonte: G1/Rio de Janeiro