Celebridades pagam menos ou nada por cirurgias plásticas e, em troca, divulgam médicos
Quando Mirella Santos, modelo, ex-participante do programa ``A Fazenda`` e atual mulher do cantor Latino, trocou as próteses de silicone dos seios um fotógrafo acompanhou cada passo.
A moça, maquiada e sempre sorridente, foi fotografada ao se preparar para a cirurgia, ao ser medicada e enquanto o cirurgião plástico fazia a incisão em seu corpo.
``Achei bacana. Pelo menos eu dou um moral também para o médico``, diz ela.
O médico em questão é Ricardo Cavalcanti Ribeiro, que aparece abraçado com ela em parte das fotos.
A operação, segundo Mirella, foi fruto de um acordo com o cirurgião plástico. ``A gente fez uma parceria, né? Afinal, eu também estava divulgando o nome dele``, diz.
Parcerias como essa estão cada vez mais comuns. Enquanto o médico entra com o bisturi, a celebridade entra com a propaganda na mídia.
A cirurgia de Mirella, segundo o médico, saiu de 30% a 40% mais barata. E as fotos foram bastante publicadas.
Tessália Serighelli, ex-participante do Big Brother Brasil, também andou aparecendo em fotos ao lado do cirurgião Luiz Fernando Dacosta, que turbinou os seios dela de graça. ``Não foi cobrado nada. Nem hospital, nem a prótese, nem a clínica``, diz ela.
``Acho que para o médico é interessante a divulgação. As pessoas vão saber que eu pus silicone e vão querer saber com quem foi``, afirma ela.
A Folha não conseguiu localizar o médico anteontem.
Já Fernanda Cardoso, colega de Big Brother de Tessália, acha que ganhou o presente dos médicos porque ``eles têm um coração bom``.
``Eles não precisam disso``, diz a moça, que se recupera de uma rinoplastia feita na clínica Santé, zona sul de SP.
A ex-BBB não pagou pelo trabalho dos médicos, só pela prótese e pela clínica.
``Não temos parceria. Às vezes vem aqui [um artista] em início de carreira e não tem como pagar. Eu deixo de cobrar meus honorários``, diz Leonard Edward Bannet, dono da Santé. ``Eles falam da gente por gratidão.``
``Para muitas pacientes, [divulgar] a plástica alavanca a carreira delas``, diz Ribeiro, que operou Mirella.
REPÚDIO
Desiré Carlos Callegari, secretário do Conselho Federal de Medicina, diz que o órgão repudia a prática. ``Se o médico está dando [a cirurgia], está levando algo em troca.``
Ele afirma que isso caracteriza concorrência desleal.
Além disso, a prática é condenável do ponto de vista da ética médica. ``O médico não pode se abraçar com uma personalidade e dizer que ele fez uma cirurgia. Não pode fornecer entrevista para se autopromover``, ressalta.
Callegari também diz que as fotos do procedimento cirúrgico de Mirella Santos podem virar motivo de sindicância contra o médico. ``O médico não poderia ter autorizado que a foto fosse feita.``
O cirurgião da modelo diz que também não concorda com a prática. ``Mas não tem como impedir. Celebridade acha que pode tudo``.
Fonte: Folha de São Paulo / TALITA BEDINELLI
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.