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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Da informação ao conhecimento: a revolução em curso na saúde

PORTUGAL

*Por António Ferreira

Portugal dispõe de meios excepcionais para se envolver neste processo e apostar decididamente em tais tecnologias no âmbito do seu sistema de saúde.


As novas tecnologias relacionadas com o tratamento da informação e a ciência da computação, em particular aquelas que permitem a análise da informação não estruturada – tais como data mining, text mining, stream analysis, machine learning, inteligência artificial, estão a revolucionar o modo de produzir conhecimento em medicina (bem assim como em todas as áreas do saber). Com recurso a supercomputadores e aos processos referidos acima é possível recolher e analisar em tempo real enormes quantidades de informação, provenientes de vários sectores (com mineração e análise automáticas dos registos clínicos e laboratoriais, da imagem médica, dos dados epidemiológicos dos doentes, dos dados administrativos e financeiros das instituições e sistemas de saúde, dos dados e características dos profissionais de saúde envolvidos na abordagem dos pacientes, etc.), relativas a milhões de pessoas em simultâneo e reconhecer e estabelecer novas associações, classificações, clusters, padrões e sequências temporais, previsões e prognósticos, deste modo transformando informação em conhecimento. Torna-se, ainda, possível a monitorização e acompanhamento dos pacientes à distância, com ganhos para os doentes (nomeadamente em conforto e segurança), para a sua saúde e para a racionalização da utilização dos recursos (materiais e humanos) dos sistemas de saúde.

Estes processos, que têm tido grande desenvolvimento nos Estados Unidos, envolvendo hospitais e universidades muito prestigiadas, e se encontram francamente atrasados na Europa, permitem a instalação de sistemas de apoio à decisão clínica, nomeadamente apoio ao diagnóstico ou à detecção e previsão de risco. Tal como no passado se falava de business intelligence, começa actualmente a surgir o conceito de clinical intelligence.

Mais recentemente os investigadores começaram a incorporar nos mesmos processos os dados do genoma humano. Apesar de todas as questões de ordem ética, antropológica e deontológica que a análise e processamento automático do genoma de cada doente levantam – as quais obrigarão, certamente, a profunda reflexão e debate e a abundante legislação, as oportunidades criadas para a evolução do conhecimento médico, a identificação de novos fármacos e processos terapêuticos e o redireccionamento terapêutico de fármacos já existentes, na individualização e personalização terapêutica, etc., são enormes e não devem ser desprezadas.

Portugal dispõe de meios excepcionais para se envolver neste processo e apostar decididamente em tais tecnologias no âmbito do seu sistema de saúde, porque conta com uma rede de fibra ótica invejável, tem tecnologia informática amplamente disseminada, meios médicos de diagnóstico e terapêutica de ponta e pessoas altamente qualificadas em todos os ramos do saber necessários para o desenvolvimento desta área científica. Seria útil apostar nas instituições públicas e privadas e nas parcerias que já deram passos significativos no âmbito destas tecnologias, apoiá-las e fomentar a sua junção em clusters público-privados específicos em vez de, uma vez mais, esperar que uma qualquer instituição pública central crie um grupo de trabalho, do qual emanará um projecto, ao qual estarão obrigadas as instituições de saúde públicas, o qual jamais se concretizará.

Vogal da Direcção do Health Cluster Portugal

Fonte: PUBLICO.pt