Caso aconteceu em um hospital de Ponta Grossa, no PR, na sexta-feira (4).
Polícia Civil abriu um inquérito para investigar o caso na cidade paranaense.
Um menino de 11 anos foi vítima de um erro médico na Santa Casa de Misericórdia, em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais do Paraná, segundo a mãe dele. O menino foi internado no hospital para se submeter a uma cirurgia no freio da língua, mas acabou sendo operado de fimose, na sexta-feira (4). A mãe da criança, Ana Paula Ferreira Machado, foi até a delegacia da Polícia Civil da cidade, ainda na sexta-feira, e registrou um boletim de ocorrência. Um inquérito foi aberto para investigar o caso.
A mãe do garoto explica que ele foi encaminhado à cirurgia pela dentista. O menino usa aparelho móvel nos dentes. Ana Paula contou ao G1 que a cirurgia facilitaria o uso do aparelho ortodôntico. “A cirurgia na língua duraria aproximadamente meia hora, mas acabou demorando mais de uma hora, achei estranho, mas não quis ficar perguntando para não incomodar. Quando o procedimento terminou, a enfermeira veio me orientar sobre como aplicar a pomada no tratamento pós-operatório de fimose. Quando entrei no quarto do hospital eu logo percebi que a cirurgia havia sido feita no lugar errado”, relatou a mãe.
O procedimento foi realizado pelo Sistema de Assistência à Saúde (SAS), uma espécie de plano de saúde oferecido aos servidores do governo do estado e dependentes.
A mãe do garoto informou ainda que a equipe do hospital relutou em entregar o prontuário do menino. A delegada da Polícia Civil em Ponta Grossa que assumiu o caso, Ana Paula Cunha Carvalho, explicou que o hospital é obrigado a entregar o prontuário do paciente à família. O garoto também foi encaminhado para o Instituto Médico-Legal (IML) para realizar o exame para verificar se houve crime de lesão corporal.
Ana Paula afirma que o estado de saúde do filho é bom, apesar de ter dificuldades para caminhar e estar assustado com a situação. “Ele está bem triste e ficou bem assustado. Ele comenta que não tinha problema naquele lugar. Quando eu falei para o médico de que aquela não era a cirurgia pela qual ele ia se submeter, ele não sabia o que dizer. O médico dizia uma coisa e o anestesista outra, cada pessoa no hospital falava alguma coisa. Acredito que foi um erro coletivo”, desabafou.
“O meu filho não quer mais fazer a cirurgia na língua. Ele está assustado e eu também não quero que ele se submeta a essa cirurgia agora. Eu estou com medo que ele tenha ficado com alguma sequela, porque ele não precisava dessa cirurgia, ele não tinha problema de fimose. O que me preocupa é que nem todos os casos de fimose precisam de cirurgia, alguns são tratados com pomada, por exemplo. Vou encaminhá-lo para um especialista para saber se houve sequelas”, disse Ana Paula.
A delegada afirmou que iniciará a coleta de provas para tentar apontar os culpados. Inicialmente, os envolvidos podem responder por lesão corporal, mas outros crimes ainda devem ser verificados durante as investigações. “Precisamos ouvir o maior número de pessoas que possam estar envolvidas no caso, desde as pessoas que fazem o atendimento, o médico, os enfermeiros, todo mundo. Além de analisar o laudo encaminhado pelo IML e o prontuário do hospital. Alguém precisa responder por esse crime. O menino foi submetido à uma cirurgia da qual ele não necessitava”, explicou.
Segundo a delegada, não há uma previsão de quando o caso deverá ser solucionado e de quando haverá uma resposta sobre quem irá responder pelo crime. A pena para o crime de lesão corporal também depende do que as investigações devem apontar, variando de prisão ou multa.
A Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa afirmou, em nota, de que o hospital tomou conhecimento da ocorrência e está investigando o fato, através da abertura de um processo administrativo interno.
Fonte: Globo.com
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.