Ela é suspeita de participar de fraude dos dedos de silicone.
Aline Cury não falou com a imprensa na chegada.
A filha do ex-coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Ferraz de Vasconcelos , Jorge Cury, chegou ao fórum da cidade para um depoimento ao Ministério Público com alguns minutos de atraso, sem falar com a imprensa. O carro em que ela estava foi colocado no estacionamento privativo de juízes e promotores.
Aline Cury vai dar explicações sobre seu envolvimento no caso dos dedos de silicone. Ela está entre os médicos envolvidos na fraude dos dedos de silicone.
No dia 10 de março, a médica Thauane Nunes Ferreira foi flagrada marcando ponto para colegas com dedos de silicone. O nome de Aline estava em um dos comprovantes impressos pelo equipamento que controla a presença dos funcionários do Samu.
Ela e outros seis profissionais foram afastados pela Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos por suspeita de envolvimento na fraude. Um deles é o pai de Aline, Jorge Cury, suspeito de liderar o esquema. Ele prestou depoimento ao Ministério Público na terça-feira (26) e assumiu que sabia dos dedos de silicone, mas negou que fosse responsável pela confecção.
Um dia depois do flagrante, o secretário municipal de Segurança, Carlos César Alves, disse que a médica Aline Cury não comparecia ao trabalho. “Em cerca de dez anos de trabalho não existe relatório de quadro médico assinado por ela, só registro de entrada e saída”.
Desde então o G1 tenta contatou com Aline, mas não conseguiu localizá-la.
Fraude
Na semana em que a fraude foi descoberta, o secretário municipal de Segurança também disse que os médicos do Samu tinham que repassar o valor ganho pelos plantões não trabalhados a Jorge Cury.
A vantagem dos profissionais seria a flexibilização da agenda para poder trabalhar em outros locais. “Cada médico que participava do esquema pagava R$ 1,2 mil por turno de 24 horas aos fins de semana para o Jorge Cury”. Alves ainda afirmou que o pagamento era feito por transferência bancária.
Desde que o caso começou a ser investigado, o médico Jorge Cury se manifestou apenas no dia em que um vídeo foi gravado mostrando a médica Thauane usando dedos de silicone. Ele negou envolvimento nas irregularidades. “Isso é um absurdo! Sou funcionário da prefeitura há 25 anos. Eu nunca soube disso. Passo no Samu todo domingo e nunca faltava funcionário. Hoje que não fui aconteceu isso.”
Investigação
No dia 15 de março, Cury foi intimado a depor no Ministério Público pela primeira vez, quando Thaune também foi ouvida. O médico alegou estar internado e não compareceu. Neste mesmo dia, a médica confirmou ao MP o que já havia dito à polícia. Contou que era forçada a participar do esquema com os dedos de silicone.
Nesta terça-feira (26), a médica prestou depoimento à Câmara Municipal, que abriu uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar o caso. Segundo o presidente da CEI, Roberto Antunes de Souza (PMDB), Thauane disse em seu depoimento que o esquema funcionava desde fevereiro de 2012 e que seis médicos participavam da fraude. Ele disse ainda que a médica afirmou que foi Jorge Cury quem providenciou os dedos de silicone e que os moldes foram feitos dentro do Samu. A médica justificou que participava do esquema para não perder o emprego, disse o vereador.
Além do Ministério Público e da Câmara de Ferraz de Vasconcelos, a Polícia Civil também apura o caso. O delegado de Ferraz de Vasconcelos Wagner Lombisani começou a ouvir alguns funcionários do Samu. O Ministério da Saúde também faz auditoria no serviço.
A Prefeitura de Mogi das Cruzes informou que o médico Jorge Cury era concursado para trabalhar na rede municipal, mas foi exonerado. A demissão ocorreu em julho de 2012 depois que a administração municipal descobriu que o profissional acumulava cargos, já que ele trabalhava em outras três cidades.
Afastados
No dia 20 de março, o prefeito de Ferraz de Vasconcelos determinou o afastamento de mais dois médicos do Samu: Caio José Losito Mantovani e Ronnie Muniz de Oliveira. A identidade deles foi divulgada um dia antes, após perícia feita no cartão de ponto e nos dedos de silicone, localizados com a médica Thauane Nunes Ferreira no dia 10 de março.
A determinação partiu do prefeito Acir Filló, por meio de uma portaria. Segundo ele, os dois serão investigados por meio de uma sindicância aberta pela adminstração municipal. Caso a fraude seja comprovada, os médicos envolvidos poderão ser exonerados.
Além dos médicos que foram afastados, prefeitura já tinha impedido que outros cinco socorristas trabalhassem: a médica Thauane Ferreira dos Santos, que foi flagrada com usando os dedos de silicone para marcar a presença dos colegas, o coordenador do Samu, Jorge Cury e os médicos Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes e Aline Cury.
Outro lado
A reportagem do G1 tentou entrar em contato com os médicos Rodrigo Gil de Castro Jorge, Felipe de Moraes, Aline Cury e Thauane Nunes Ferreira, mas não conseguiu. Caio José Losito Mantovani e Ronnie Munis de Oliveira também não foram localizados.
Em nota à produção do Fantástico, enviada no domingo (17), o advogado de Felipe de Moraes disse que o médico "não participou de nenhum esquema de fraude e que nunca recebeu dinheiro sem que tivesse trabalhado nos plantões."
Entenda o caso
Em 10 de março, a Guarda Municipal gravou imagens do momento em que a médica Thauane fraudava o sistema. Com a médica, foram apreendidos seis dedos de silicone e comprovantes impressos pelo equipamento que controla o horário dos funcionários. Ela chegou a ser detida por falsificação de documento público, mas foi solta porque a Justiça concedeu um habeas corpus. Em depoimento ao Ministério Público, Thauane contou como era o esquema e apontou que ele seria chefiado pelo então coordenador do Samu, Jorge Cury.
Fonte: Globo.com
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.