Um bebê com microcefalia ou lesões cerebrais necessita de acompanhamento desde o nascimento e as consultas com diferentes especialistas podem ser semanais. As famílias precisam de neurologistas e fisiatras para garantir a saúde e reabilitação dos filhos, mas não há médicos para atender a todos. Na falta dos clínicos, profissionais da rede de apoio são escalados para auxiliar os pacientes.
Para especialistas no tratamento de lesões neurológicas não há dúvidas, faltam médicos e o tratamento das vítimas do surto de microcefalia associado à zika deve ficar por conta de fisioterapeutas e fonoaudiólogos. As sociedades de terapia, no entanto, alertam que, apesar de existirem grande número de profissionais de apoio, eles são poucos na rede pública de atendimento.
O presidente da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, Rubens Wajnsztejn, garante que o acompanhamento dos recém-nascidos com microcefalia terá problemas. "A gente sempre teve carência de neurologistas, agora acho uma loucura dizer que não vai faltar [profissionais]. Com certeza vai faltar."
A sociedade tem cerca de 1.500 participantes ativos. Segundo os dados da pesquisa Demografia Médica no Brasil 2015, existem 4.362 neurologistas no país, ou seja, um para atender 45,9 mil brasileiros.
Para a fisiatra Regina Chueire, presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, é preciso investir rapidamente em novos centros de reabilitação para garantir consultas, uma vez que essas crianças necessitam de atenção constante.
"Somos 800 fisiatras, mas no Norte e Nordeste do país, onde a zika está grave, temos só 5 e 30 profissionais (respectivamente) e os centros não são adequados" - Regina Chueire, presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação
A médica diz estar preocupada, mas quer se manter otimista. "Recebemos um pedido do governo para informar quais equipamentos tínhamos e quais sentimos falta para atender, mostra um movimento positivo, mas precisa ser acelerado".
O Ministério da Saúde afirma que existem 138 centros especializados em reabilitação no país. Outros dez estão na fase final de obras e mais 65 centros serão habilitados em áreas com um vazio assistencial.
Yanca Mikaelle de Lima é mãe de Sofya Emanuelle de Lima, que nasceu com microcefalia na Paraíba, e sofre para ser atendida. Por não ter um centro próximo, a mãe precisa madrugar, pegar um ônibus e viajar com a filha para garantir tratamento. Nessas condições, consultas frequentes são dificultadas.
Falta de médicos transfere responsabilidade
Os profissionais de terapia em outras áreas da saúde afirmam que têm grande número de especialistas e podem ajudar nos cuidados, mas não na rede pública.
A presidente da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional, Solange Canavarro, acredita que os pacientes vão ser atendidos por fisioterapeutas. "Somos responsáveis pela reabilitação, os atendimentos virão até nós, mas pode ter sobrecarga. Fizemos um parecer para o Ministério da Saúde e deixamos claro que queremos ajudar, temos bastantes fisioterapeutas."
A associação conta com 1.582 fisioterapeutas neurofuncionais cadastrados, mas Solange afirma que são mais de 200 mil fisioterapeutas formados.
"O problema é que a maioria [dos fisioterapeutas] está na rede particular. Os poucos que estão em iniciativas públicas precisam dar conta de uma rotina de consultas ao menos três vezes por semana com a mesma criança, ficam cerca de 40 minutos com ela. Será difícil atender a todas." - Solange Canavarro, da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional
Com fonoaudiólogos o cenário é o mesmo. "Aqueles que dependem da rede pública terão problemas de acesso às equipes. Há lista de espera, burocracia para marcar, fora que tem município que não tem o serviço", afirma Bianca Queiroga, presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, que tem mais de 35 mil inscritos.
Ministério aposta em capacitação
Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde diz fazer um levantamento do número exato de médicos na rede pública brasileira. O órgão tem um registro de 7.525 profissionais que trabalham nos núcleos públicos de apoio como fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
Para atender as crianças com microcefalia e alterações no sistema nervoso, o órgão aposta na capacitação de profissionais com um curso à distância para fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e médicos que atuam nos diversos serviços da Rede SUS.
Fonte: UOL
Espaço para informação sobre temas relacionados ao direito médico, odontológico, da saúde e bioética.
- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.