Caso ocorre no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, tido como referência.
Paciente de 75 anos passará por nova cirurgia nesta sábado (20).
Diagnosticada com câncer em novembro de 2015, Dirce Vianna, de 75 anos, passou por uma cirurgia, para retirar o rim esquerdo que tem um tumor. Segundo a família, a equipe médica do Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, retirou o órgão do lado direito.
Assustada, a filha de Dirce, Sônia Vianna Landeo, fala em erro médico. O hospital afirma que abriu uma sindicância para analisar a situação, e o Ministério Público do Paraná (MP-PR) também investiga o possível erro.
O procedimento cirúrgico foi feito na sexta-feira (12) – um dia após o previsto porque, de acordo com Sônia, o hospital afirmou que não havia vaga na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O Erasto Gaertner é considerado de referência no tratamento de câncer.
“Eu vi o corte do lado errado e comecei a falar, mas eles diziam que não, que o tumor estava ali e tinha a possibilidade de haver tumor nos dois lados”. Sônia, então, procurou o médico que havia feito os primeiros exames da mãe. Segundo ela, o profissional confirmou que o tumor estava do lado esquerdo e que de fato havia sido retirado o rim errado.
“Foi um pesadelo e ainda é um pesadelo porque estou acordada. Eu não durmo faz dias”, diz Sônia.
Segundo a filha, Dirce tem um tumor no rim esquerdo e tinha um cisto no rim direito. Quando a mãe foi internada, ela levou uma tomografia particular. O hospital fez um novo exame, que, segundo Sônia, não teve laudo claro.
“A gente foi com uma tomografia particular. O hospital Erasto Gaertner não aceita tomografia particular e fez a dele. Na dele, o laudo não estava tão claro em qual rim tem o tumor. O médico me disse que apalpou e viu qual tinha o tumor. Porém, a minha mãe tinha um cisto no rim direito. Então, ele apalpou, viu o cisto e achou que era o tumor. Só que não é assim. Existem os exames que mostram”.
Por meio de nota oficial, divulgada nesta sexta-feira (19), o Hospital Erasto Gaertner informou que tem prestado assistência a paciente.
“O Hospital reitera que está prestando toda assistência à paciente e seus familiares, e que está apurando os fatos internamente por meio de uma sindicância. Caso seja comprovada qualquer irregularidade no atendimento prestado serão tomadas as providências necessárias”.
De acordo com Sônia, houve uma reunião com a direção do hospital na quinta-feira (18), confirmando o erro. “O hospital chamou a gente para uma reunião e acabou falando que realmente houve um erro. A diretoria do hospital falou comigo, com meu esposo e com o advogado e que eles iriam fazer de tudo reparar”.
O encontrou acabou com a esperança de Sônia de que tudo fosse um mal entendido. “Até a reunião com o hospital, eu estava esperançosa de estar enganada. Eu achava que alguém ia falar que foi retirado o rim certo, mas não. Eles falaram que realmente foi retirado o rim errado”.
A reunião não é confirmada pelo hospital (Veja a nota do hospital no fim da reportagem.)
Transferência
Dirce foi encaminhada para um quarto particular e segundo a filha está com mais conforto, mas essas medidas, na avaliação dela, não resolvem. “A casa da minha mãe é melhor, sabe?”
Sônia conta que a mãe teve uma piora clínica e psicológica após saber da retirada do rim direito. Inclusive, recebeu a visita de uma psicóloga do hospital. “O dano da minha mãe não tem reparo. Nada vai compensar o que ela perdeu. Ela perdeu a oportunidade de vida dela. Infelizmente, esta é a realidade”.
Para Sônia, o comportamento da mãe, diante destes agravantes para a doença, é o oposto do habitual. Além da situação do internamento, ela está desanimada a ponto de não comer.
Nova cirurgia
Neste sábado (20), Dirce vai realizar uma nova cirurgia. O procedimento é chamado de fulguração que é uma espécie de cauterização do tumor. Depois, é possível que Dirce precise passar por algumas sessões de radioterapia. Para a filha, isso pode comprometer ainda mais a saúde da mãe já que perdeu muito peso e está com anemia.
De acordo com Sônia, os médicos falam em 90% de chance de a tentativa ser bem sucedida. Contudo, a família fica apreensiva porque teme uma metástase – disseminação do câncer para outros órgãos.
“Médicos que conversaram comigo antes falaram que nem poderia mexer neste tumor. [Falaram] que mexendo poderia espalhar e, aí sim, criar metástase. Ele estava embrulhinho, direitinho no rim esquerdo”.
Veja a nota divulgada pelo hospital
Diante das veiculações na mídia a respeito de suposta irregularidade ocorrida em procedimento cirúrgico em paciente do Hospital Erasto Gaertner, a instituição vem a público informar que:
1. Ao contrário do que foi veiculado, não houve erro de lateralidade, ou seja, de ter sido realizada por engano a cirurgia no rim direito ao invés do esquerdo.
2. A equipe médica que tratou da paciente tinha conhecimento da presença de LESÕES SUSPEITAS para neoplasia em ambos os rins. Os exames de imagem (tomografia) - o primeiro realizado em outra instituição e trazido pela paciente, e também outro novo exame, realizado no Hospital Erasto Gaertner - comprovam que existiam lesões no rim esquerdo e também no rim direito.
3. Foi explicado para a paciente e sua família que a lesão renal direita poderia não ser cancerígena e que o sangramento poderia persistir, caso a causa fosse outra.
4. A cirurgia realizada foi proposta em âmbito ambulatorial, com o consentimento da paciente e de dois familiares.
5. O hospital segue o Protocolo de Cirurgia Segura.
O Hospital Erasto Gaertner tem em sua missão o combate ao câncer com ciência, humanismo e afeto e é reconhecido pelo Ministério da Saúde como referência no tratamento de câncer no sul do país. Somente no ano de 2015, foram realizadas mais de sete mil cirurgias, mais de 200 mil aplicações de radioterapia e cerca de 63 mil doses de quimioterapia. A instituição realizou, ao todo, mais de um milhão e 300 mil procedimentos, sendo 93% deles via Sistema Único de Saúde (SUS).
O Hospital reitera, mais uma vez, que está prestando toda assistência à paciente e seus familiares, e que está apurando os fatos internamente por meio de uma sindicância. Caso seja comprovada qualquer irregularidade no atendimento prestado serão tomadas as providências necessárias, como sempre foi a postura do Hospital Erasto Gaertner.
Veja a nota do Ministério Público
O Ministério Público do Paraná informa, com relação às declarações prestadas pela família da paciente atendida pelo Hospital Erasto Gaertner, que a Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de Curitiba já instaurou procedimento administrativo para apuração dos fatos, expedindo-se ofício ao hospital com solicitação de esclarecimentos acerca do ocorrido. O Ministério Público aguarda, no momento, o retorno do hospital.
Fonte: G1/Paraná
Espaço para informação sobre temas relacionados ao direito médico, odontológico, da saúde e bioética.
- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.