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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico, Odontológico e da Saúde (FMRP-USP). Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado do curso de Bioética e Biodireito do HCor. Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Médicos se negam a fazer parto normal por cesáreas

Para médicos, procedimento não compensa

Mesmo sendo o Estado com maior número de partos domiciliares do Brasil, hoje o Amazonas está no topo do ranking na realização de cesáreas, contrariando a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS). As mães que optam pelo nascimento natural esbarram na dificuldade de encontrar profissionais com disponibilidade e reclamam da ‘indução’ à intervenção cirúrgica nos consultórios médicos.

Uma pesquisa da Agência Nacional de Saúde (ANS) mostrou que 70% das gestantes chegam aos consultórios com o desejo de dar à luz pelo parto normal. Mas, no último trimestre da gravidez, somente 30% delas mantém a decisão. A rede pública em Manaus registra em torno de 40% de nascimentos via cesárea. Nos hospitais particulares, este índice sobe para 60%, segundo dados do Ministério da Saúde. A OMS recomenda a intervenção cirúrgica para apenas 15% dos casos.

Gestante de 7 meses, a microempresária Tatiana Vargas, 29, avalia que a dinâmica dos consultórios obstetrícios na capital foi mudando discretamente ao longo das últimas três décadas. Hoje, ela diz que encontrar um médico com disponibilidade para fazer o pré-natal e o parto normal, com a garantia de que o profissional vai sair de casa a qualquer hora para dar assistência à parturiente, está cada vez mais raro em Manaus.

“Com a minha mãe foi assim, mas comigo já não será possível. Três médicos me disseram que não recebem o suficiente do plano de saúde para fazer meu parto normal, só vão estar comigo se eu marcar a cirurgia”, reclamou.

Mãe de primeira viagem, Tatiana conta que desde sua primeira consulta de pré-natal, ainda na quinta semana de gravidez, os médicos sugerem a cesárea. Se ela insistir em tentar o parto normal deverá ser atendida pelo profissional que estiver de plantão na maternidade, particular ou pública, quando chegar a hora. “Acho triste que o médico que me acompanhou ao longo da gestação, conhece meu histórico e com quem eu desenvolvi laços de confiança não possa estar presente no momento mais decisivo”, disse.

A gestante Mirian dos Santos Rocha, 26, está no sétimo mês de gravidez, e já mudou de médico cinco vezes na esperança de encontrar um profissional que possa fazer seu pré-natal e o parto. Com a experiência adquirida em longas horas de espera nos consultórios, ela avalia que o aumento das cirurgias está ligado a dois motivos. O primeiro é comercial, onde os médicos não querem ‘perder’ até 20 horas acompanhando um parto normal, quando podem marcar a cesárea no dia mais cômodo na agenda deles.

Em segundo, vem a própria preferência das mães, que em maioria também optam pelo procedimento cirúrgico, muitas vezes influenciada pelo próprio profissional. “O primeiro médico que fui me avisou que só fazia cesárea, sem nem me examinar para ver se eu tenho condições de ao menos tentar um parto nornal”, reclamou.

Risco cirúrgico

O secretário de Saúde do Estado, Wilson Alecrim, destaca que a cesariana é uma medida extrema de exceção, não de regra, onde a recuperação é mais lenta e os riscos maiores. “Muitas vezes a própria parturiente e a família pressionam para que o parto seja cirúrgico, sem avaliar os riscos de uma cirurgia, sem avaliar o que é bom para ela e melhor para o bebê”, diz Alecrim.

Dados do Ministério da Saúde mostram que as mulheres submetidas à cesariana têm 3,5 vezes mais probabilidade de morrer no parto e cinco vezes mais chances de ter infecção no aparelho genital depois do nascimento do bebê. Além disso, a prática de agendamento da cirurgia aumenta o risco de nascerem bebês prematuros.

Informação

Especializada na assistência e acompanhamento de parturientes, a doula Sarita Evangelista afirma que em Manaus um parto particular, com equipe médica especialista em parto humanizado, preparada para fazer o procedimento natural ou cirúrgico, conforme a evolução do quadro, custa R$ 9 mil. Para as gestantes que podem pagar e para as que também não podem arcar com esse valor, a recomendação da doula é a mesma: a busca por informação.

Sarita destaca que o caminho para um nascimento saudável é o empodeiramento da gestante, com informação e preparação. Ela orienta que a mulher deve buscar recomendações sobre o médico com quem faz o pré-natal, sobre as maternidades, tipos de parto e leis. “Ela pode procurar livros, textos na internet, conversar com outras gestantes e mães. O importante é estar preparada para tomar decisões”.

A doula também recomenda a preparação com aulas de hidroginástica, yoga e alimentação adequada. “Vejo que existem mães que gastam muito dinheiro com o enxoval ou o quartinho do bebê, mas esquecem de investir para ter um bom parto”, afirmou.

Preço não compensa, diz médico

O presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mário Viana, que atende na especialidade ginecologia e obstetrícia, disse que na rede particular, especialmente no caso dos convênios aos planos de saúde, os médicos preferem fazer a cesárea em razão da remuneração.

“Ganhamos quase a mesma coisa para fazer um parto normal e uma cesárea, sendo que na cirurgia tudo se resolve em até uma hora. Já uma mulher em trabalho de parto normal pode demorar até 12 horas para ter o filho. Quem nos paga por este tempo de trabalho?”, argumenta.

Viana também afirma que muitas mulheres preferem o procedimento cirúrgico por razões estéticas, com medo de causar danos ao aparelho genital que comprometam a atividade sexual. O obstetra disse ainda que a rede de saúde não prepara as mulheres para o parto normal, com sessões de fisioterapia e orientação aos pais.

AM lidera em partos domiciliares

A Estatística do Registro Civil 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que 6,5% dos partos no Amazonas aconteceram em casa, o maior índice em todo País. De acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), em 2012 foram registrados 4.441 partos domiciliares, com a participação de uma parteira, na zona rural de Manaus e interior do Estado. Em 2011, o número foi ainda maior, 5.222 partos feitos em casa. O total de partos domiciliares em 2013 ainda está sendo computado.

Hoje, o Amazonas tem 1.073 parteiras tradicionais cadastradas junto à Susam. Este quantitativo representa apenas 30% do total de municípios do Estado.

Fonte: Clarice Manhã - Portal D24