Livro percorre todo os passos da internação e morte de Tancredo Neves
Saiu do prelo um livro que ainda vai dar o que falar, principalmente entre os médicos: O paciente - o caso Tancredo Neves, de Luís Mir, uma brochura de 384 páginas (Editora Cultura). Certamente será tachado de engenharia de obra feita, mas é mais do que isso: uma investigação sobre um erro médico. No Brasil, como em outros lugares, tratar de erros médicos é monopólio da corporação que se veste de branco, mesmo aqueles casos que chegam primeiro à delegacia de polícia e só depois aos conselhos de medicina.
Eleito por voto indireto, depois de uma impressionante campanha popular, Tancredo Neves não chegou a tomar posse. Atormentado por dores no abdômen - que ocultou enquanto pôde -, foi internado no Hospital de Base de Brasília e operado. Foi a primeira de uma série de cirurgias malsucedidas, a partir de um diagnóstico equivocado. ``Tancredo Neves poderia ter tomado posse na Presidência da República em 15 de março de 1985``, disse o cirurgião Henrique Walter Pinotti, recentemente falecido, que participou de três das quatro operações do Presidente.
Pesquisador, especialista em atendimento médico ao trauma, professor visitante da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Mir refez em seu livro todo o percurso da internação e morte de Tancredo Neves. Entrevistou os médicos que participaram do caso, reexaminou os prontuários e exames. Na obra, narra os bastidores das cirurgias que Tancredo sofreu. ``Há um consenso médico sobre esse caso: o paciente matou o presidente da República e o presidente da República matou o paciente``, conclui.
O caso - ``Se tivessem esfriado a bacteremia (processo infeccioso), estabilizado o quadro, ele poderia ter tomado posse. Seria operado depois, argumenta Mir. O diagnóstico de `apendicite supurada` foi equivocado. O que encontraram? Um tumor. Era primário, não tinha abscesso, não contaminava a parede abdominal, não tinha metástase. O que determinou a morte de Tancredo? Enterorragia (hemorragia maciça) decorrente de erro técnico na sutura da primeira cirurgia. Não era divertículo, era um leiomiossarcoma. Para retirá-lo, foi feita ressecção em cunha - um erro técnico grave. Ele sangrou desde o primeiro momento e isso determinou as complicações que o levaram à morte.``
Fonte: Diário de Pernambuco / Luiz Carlos Azedo com Norma Moura
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.