Cirurgiã teria cometido erro médico ao utilizar cola cirúrgica para tratar de um corte no supercílio do filho
A Polícia Civil vai encaminhar um ofício ao hospital Rio’s Dor, no Pechincha, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, para ouvir a médica da unidade que colou o olho esquerdo de um bebê de 1 ano e 7 meses na noite desta terça-feira. O caso foi registrado na 32ª DP (Taquara), mas está sendo investigado pela 41ª DP (Tanque). De acordo com a delegada Martha Cavallieri, o fato ocorreu por volta de 23h e também deverá ser ouvido pela polícia o oftamologista que fez o segundo atendimento.
Segundo o servidor público Fabiano Mendonça e a meteorologista Gilmara Furtado, pais do menino Bruno Lima Furtado, a cirurgiã teria cometido erro médico ao utilizar cola cirúrgica para tratar de um corte no supercílio do filho. O produto, de acordo com o casal, atingiu o globo ocular e provocou o fechamento parcial da pálpebra. A médica teria optado por usar a cola para fechar o corte em vez de fazer uma sutura. O bebê se cortou ao bater a cabeça, enquanto brincava, contra uma mesa dentro de casa.
A direção do hospital não quis divulgar o nome completo da médica que atendeu Bruno. Os pais sabem apenas que ela se chama Raquel. Fabiano e Gilmara afirmam que a médica teria apertado com muita força o bastão de cola cirúrgica. Por causa do problema, o menino teve de ser internado na noite desta terça-feira. O casal conta que a cirugiã ligou para o oftalmologista do hospital que, entretanto, não pôde ir à unidade prestar o atendimento. Mendonça e Gilmara prestaram queixa na 32ª DP (Taquara). Eles também pretendem acionar a Justiça sobre o caso.
``Ele estava dormindo durante o atendimento e ficou muito agitado quando o produto caiu no olho. Ele começou a esfregar, o que piorou a situação. Mas a médica, em momento algum, pediu a ajuda de uma enfermeira e usou apenas uma gaze com soro fisiológico para tentar retirar a cola``, disse a mãe.
Gilmara contou, ainda, que foi obrigada a esperar durante quase três horas para Bruno poder ser internado porque, ao saírem de casa correndo, o pai esqueceu a carteirinha do plano de saúde. ``Meu filho já tinha sido atendido e eles tinham como verificar o número da carteirinha com o plano de saúde. Ele só foi internado às 2h da madrugada. Meu filho não precisava ter sido internado. Ele só foi internado por causa da cola e o hospital, sabendo que era um erro deles, exigiu a apresentação da carteirinha para dar entrada na internação``.
Na manhã desta quarta-feira, o oftalmologista que atenderia Bruno às 9h não apareceu. O pai do garoto reclamou à supervisão do hospital e passou a ser monitorado por seguranças da unidade. ``Eu comecei a me exaltar porque afirmaram que o oftalmologista atenderia meu filho e ele não apareceu. Tivemos que esperar por outro, que chegou por volta das 10h``.
O menino foi então atendido pelo oftalmologista Fábio Oliveira, que examinou Bruno e disse que não há risco de ele ter a visão prejudicada. O médico receitou um gel, para manter o olho lubrificado, um colírio antibiótico, para evitar uma possível inflamação, e soro fisiológico, para retirar a cola. O prazo para o olho ser descolado é de 7 a 10 dias, mas, caso isso não ocorra, o menino terá que passar por uma microcirurgia.
Procurada pela reportagem, a direção do Hospital Rio’s Dor não quis se pronunciar sobre o caso e alegou estar reunida para verificar quais providências serão tomadas. A administração da unidade informou que vai divulgar todas as informações referentes ao atendimento por meio de sua assessoria.
A assessoria do Conselho Regional de Medicina (Cremerj) informou que casos como o de Bruno devem ser encaminhados ao conselho como denúncia pelo paciente ou pelo responsável, que deve procurar uma das unidades do Cremerj munido de qualquer documentação que possa justificar a denúncia.
O Cremerj acrescentou, entretanto, que pode iniciar a denúncia com base nas informações divulgadas pela imprensa. O conselho abre uma sindicância para apurar os fatos e, quando necessário, inicia um processo ético contra o médico. Os conselheiros do Cremerj responsaveis por julgar os casos só podem se pronunciar após a avaliação do processo.
Outro caso
Em março de 2011, um bebê de 18 dias teve a perna amputada devido a um erro médico, após sofrer uma queimadura durante uma cirurgia no Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz, no Flamengo. A pequena Camile Vitória Nascimento nasceu com hidroanencefalia grave — ausência dos hemisférios cerebrais, que são substituídos por bolsas cheias de líquido — e precisou ser operada.
Durante o procedimento na cabeça da menina, que durou pouco mais de 20 minutos, segundo a família, uma placa colocada para a utilização do bisturi elétrico teria queimado a perna direita do bebê.
Fonte: Diário de Pernambuco
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.