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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Mãe quer Justiça após enterrar o filho duas vezes: 'Estou revoltada'

Segundo ela, hospital 'esqueceu' de entregar as pernas do filho para o IML.
Jovem morreu após ser atropelado por um trem em Cubatão, SP.


O jovem Carlos Yugor de Souza Almeida, de 20 anos, morreu no último dia 26, após ser atropelado um dia antes por um trem, no bairro Vila Natal, em Cubatão (SP). Mas, além das circunstâncias trágicas do falecimento de Carlos, dois acontecimentos trouxeram ainda mais dor para a técnica em meio ambiente Lucielma de Souza Gomes, de 38 anos. Isso porque o corpo do seu filho foi enterrado sem partes que acabaram sendo separadas por conta do acidente com o trem e 'esquecidas' pelo hospital. O Boletim de Ocorrência da morte do jovem também causou impacto na família.

Revoltada, a mãe de Carlos Yugor lembra os momentos de aflição que viveu logo após a perda de seu filho, com a notícia de que as pernas do jovem não estavam entre os restos mortais enterrados. “O enterro foi na segunda-feira (27) de manhã e, quando foi na terça-feira (28), o meu namorado recebeu uma ligação da assistente social do Hospital Modelo, onde o meu filho ficou internado. Achei que fosse para prestarem algum tipo de apoio, mas na quarta-feira (29), ela esteve na minha casa, às 13h. A assistente social veio com uma enfermeira. Foi neste momento que ela me deu a notícia de que os membros inferiores do meu filho ainda estavam no hospital. Não acreditei quando ela falou”, relata.

Lucielma destaca que a surpresa só não foi maior do que a revolta com o episódio. “Ele havia precisado amputar do joelho para baixo, mas a justificativa para não terem enviado os membros inferiores não me convence. Eles alegaram que não contavam que ele iria a óbito. Como assim? O médico mesmo já havia dito que seria difícil ele resistir até de manhã. Disseram também que ele foi para a biópsia, mas eu não acredito”, afirma.

Com essa informação, a técnica em meio ambiente precisava fazer o enterro dos demais restos mortais de seu filho. Porém, Lucielma lembra que a resolução deste problema não foi simples. “Precisávamos fazer o sepultamento das pernas em um outro enterro. Mas tínhamos que ver o jazigo. O corpo do meu filho já estava em decomposição, tanto que foi difícil deixar o caixão aberto durante o velório. Acionamos a tia dele, para que os membros inferiores fossem enterrados na campa do falecido pai dele. O hospital nos pressionou e disse que o sepultamento tinha que ser até 17h. Eles disseram que tínhamos que ser rápidos. Ela deu a autorização, mas não foi tão simples. A moça do hospital disse que eu tinha de ligar em 10 minutos, mas ela não me atendeu no celular. Aí, lembrei da internação e liguei pro Hospital Modelo”, conta.

A mãe de Carlos ressalta a angústia com a situação. “Fiquei muito nervosa quando ela disse isso. Falei que estava ligando há muito tempo para ela, mas ela não escutava. Daí, ela explicou que o celular era do hospital, não era dela. Não tive dúvidas em dizer que eles tinham muito tempo para sepultar o meu filho. Falei: ‘Não quero nem saber, vocês já fizeram muita lambança. Quero isso resolvido’. E desliguei o telefone. Felizmente, os funcionários do cemitério aceitaram esperar, vendo o meu desespero. Só que a secretária da Osan, que fez o enterro, disse que talvez não desse tempo. Também falei que isso não interessava. Graças a Deus contei com a ajuda de amigos para resolver esse problema”, diz.

Segundo a polícia, o jovem teria se suicidado, hipótese completamente descartada pela mãe.“O primeiro BO, que foi feito na época da internação, estava correto. Tenho testemunhas que me falaram que ele não conseguiu atravessar a linha do trem antes. O meu filho, mesmo bastante debilitado, disse que não tinha dado tempo. O chinelo dele ficou para trás, ele caiu e quando tentou levantar, só conseguiu tentar defender o rosto. Só que depois que ele morreu, o delegado com quem eu fui conversar, para prestar o BO contra o hospital, me perguntou se era sobre o caso do menino que se suicidou. O meu filho não se matou. Disseram que ele tomava remédios, mas ele nunca precisou disso, sempre foi muito saudável. Não vou permitir que digam que o meu filho se matou. Isso não aconteceu”, critica.

Com essa versão apresentada pela polícia, a indignação de Lucielma cresceu. Ela garante que não irá desistir de reparar a história, para que a memória de seu filho seja preservada. “Alguém deve ter feito contatos para mudar a versão. Aconteceu tudo ao mesmo tempo. Dois problemas muito graves e estou revoltada. A mãe frágil acabou e eu virei uma leoa. Não tenho mais condições de chorar, não tenho mais vontade disso. O meu filho não se suicidou. Eu não estava cobrando nada de ninguém, mas depois que eu vi esse BO, dizendo que o meu filho se suicidou, decidi ir até a últimas consequências”, declara.

Por fim, a técnica em meio ambiente, que tem mais dois filhos, revela a imagem que irá levar de seu filho, após o acidente que tirou a vida dele. “Ele dançava, brincava muito. O Carlos não parava quieto, era muito brincalhão. Algumas vezes, eu falava sério com ele, mas o Carlos fazia flexão de braço, fingia que não estava nem aí. Ele era desse jeito. Ele colocava funk, começava a dançar e dar risada, me provocava dizendo que eu estava ficando ‘gordinha’. Ele também corria de um lado pro outro. Ele era o mais velho dos meus filhos, só que o mais extrovertido. Ele sempre foi assim e todos nós vamos sentir muita falta dele. Está sendo horrível”, encerra.

O G1 tentou entrar em contato com o Hospital Modelo para falar sobre o caso mas, até o fechamento desta reportagem, não houve retorno.

Fonte: Globo.com