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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Novo exame indica se a pessoa está envelhecendo mais rápido que deveria

Está disponível no Brasil um teste genético que promete indicar se a pessoa está envelhecendo mais rápido do que o esperado para a sua idade e, como consequência, pode estar mais vulnerável a doenças como diabetes e câncer. Feito a partir de uma coleta simples de sangue, o teste avalia o encurtamento dos telômeros, sequências repetitivas de DNA que existem nas extremidades de todos os cromossomos humanos. Sempre que uma célula se divide, eles ficam menores.

O estudo dos telômeros é uma área promissora para a medicina. O tema rendeu até o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2009 aos biólogos norte-americanos Carol Greider, Elizabeth Blackburn e Jack Szostak. Blackburn, que é professora da Universidade da Califórnia, acredita que a medição dessas estruturas ajuda a intervir precocemente em doenças e até cofundou uma empresa que oferece esse tipo de exame. Mas especialistas são céticos sobre qual a validade, na prática, desse tipo de diagnóstico hoje em dia.

"Até o momento, o exame é usado basicamente para apontar o nível de envelhecimento e casos de doenças cardíacas, diabetes e alguns tipos de câncer. Porém, está em estudo sua eficiência para outros males como depressão e estresse pós-traumático", diz a hematologista Regina Biasoli Kiyota, coordenadora de Análises Clínicas do Alta Excelência Diagnóstica, que trouxe o teste para o Brasil.

Com a função de proteger e separar os cromossomos, os telômeros são semelhantes à capa plástica na ponta dos cadarços de sapato, que impedem que ele desfie, estrague e perca sua função. Em cada célula humana existem 23 pares de cromossomos e, portanto, 92 telômeros (um em cada extremidade de 46 cromossomos).

O fato de os telômeros ficarem mais curtos a cada divisão celular faz parte do ciclo natural da vida, mas também está relacionado aos hábitos adotados durante os anos. Sabendo que essas estruturas estão menores do que é considerado normal para sua idade, uma pessoa pode adotar mudanças no estilo de vida, como fazer mais exercícios e evitar a obesidade, e, assim, prevenir doenças associadas ao envelhecimento.

Como é feito

O teste para medição dos telômeros só é feito com pedido médico. Ele pode ser requisitado por especialistas das áreas de geriatria, nutrologia, endocrinologia e dermatologia, entre outras. Kyiota explica que, a partir do sangue, é extraída a célula, um glóbulo branco, para estudo do cromossomo e, então, é possível analisar a extensão dos telômeros por uma metodologia de alta sensibilidade.

Com o exame, o paciente recebe uma pontuação, representada no laudo de forma gráfica. De acordo com a hematologista, o índice de telômeros de um paciente é comparado ao índice médio de uma população da mesma faixa etária. Se a medição estiver abaixo da média, o profissional pode pedir exames complementares ou sugerir algumas mudanças no estilo de vida da pessoa.

"Se o resultado de uma pessoa considerada jovem der por volta de 30% a 40%, trata-se de um sinal de que algo não vai bem. O médico interpretará o teste e, a partir do resultado, virão os outros exames para encontrar qual o problema desse paciente. Para isso, é necessário ter todo o histórico dessa pessoa", explica.

Segundo a especialista, com o resultado, além das características genéticas, é possível descobrir se o paciente está fazendo as escolhas corretas. "Não há reversão no quadro, ou seja, os telômeros que estavam encurtados não vão voltar ao tamanho anterior. O teste serve como um freio de mão. Uma pessoa fumante que não consegue abandonar o vício, ao comprovar que o fumo está realmente influenciando seu envelhecimento e saúde, terá um motivo a mais para parar", exemplifica.

Kiyota também entende que, em alguns casos, será interessante que o paciente comece a tomar vitaminas, mas sempre com acompanhamento médico. "É algo muito delicado, pois suplementos em excesso podem causar câncer", alerta.

Para quem é indicado

Kiyota conta que o exame é voltado ao público adulto, pois a idade celular só é vista num organismo maduro. "Infelizmente, nenhum convênio cobre o exame genético que, aliás, não é barato", diz ela. O valor gira em torno dos R$ 2.100.

A médica admite que o teste não é para todo mundo: "Se fosse algo aberto à população teria de ter muito critério. Será que todas as pessoas estão preparadas para receber a notícia de que poderão ter uma doença? Mesmo que seja uma estatística, não é algo determinista. Quando se pega o resultado, dependendo dele, o médico, ou até mesmo um psicólogo, tem de orientar o paciente".

Para ela, o exame seria mais indicado para pessoas com alto risco de desenvolver doenças como diabetes, por ter casos na família. Ou para pessoas com parentes que morreram de infarto ou insuficiência cardíaca. E, acima de tudo, para indivíduos que estão preparados para lidar com a informação.

"Você pode, sim, estimar riscos, mas é preciso maturidade do paciente para receber o diagnóstico e responsabilidade do médico de interpretar o resultado para o paciente. É uma arma mais eficaz para que aqueles que tenham histórico familiar não passem a vida com um fantasma. A pessoa, então, pode se preparar. Porém, mesmo sem exame, ela não se exime de ter cuidados como manter uma dieta saudável, por exemplo".

"A medicina está se transformando e com ela vem junto uma era nova na genética. Muitos estudos com telômeros podem antecipar o conhecimento de algumas doenças e seus riscos. Sua importância é abrir os horizontes da medicina preventiva, o que será uma grande esperança", afirma.

Valor científico

Alguns especialistas procurados pelo UOL têm dúvidas sobre a utilidade do teste. "Acredito que esse exame tenha mais valor científico que comercial. Serão raridades os profissionais que conseguirão interpretá-lo corretamente", afirma o geneticista Ciro Martinhago, diretor da Chromosome Medicina Genômica e membro da equipe de genética do hospital Albert Einstein.

Questionado, então, sobre qual o sentido em fazê-lo, Martinhago responde: "Eu, como geneticista, não vejo motivo. Eu não faria". Ele compara os telômeros a pneus de carro: você dirige muito, eles gastam. Você pode ir uma vez por semana à borracharia. Já sua amiga vai apenas uma vez ao mês.

"De uma forma geral, quanto mais se usa um pneu, mais rápido ele vai envelhecer, mas não podemos esquecer a individualidade. Pessoas são diferentes. Além disso, se você for ao médico ele vai sempre te falar para diminuir o estresse, trabalhar menos, parar de fumar, enfim, esses conselhos que serão os mesmos se o exame apontar que seus telômeros encurtaram".

Ele diz, ainda, que mais importante que os telômeros é a atividade da telomerase, que é a enzima responsável por preservar os telômeros. "Só o tamanho do telômero não é importante. Esse tipo de teste vale para apenas 1% da população quando falamos de envelhecimento e doenças, isso porque ele não é um exame único. Existem muitos outros fatores que trabalham associados aos telômeros".

Só doenças raras

O geneticista Caio Robledo Quaio, do Laboratório Mendelics, em São Paulo, acrescenta que a telomerase pode ser um freio das células. Se por um lado está relacionada ao envelhecimento celular, ela também é importante arma contra processos que levam a uma proliferação celular desordenada, como ocorre no câncer.

"Ao se dividirem, cada uma das nossas células precisa realizar uma cópia completa do nosso genoma, que está compartimentado nos cromossomos. As células que expressam a telomerase, como as células-tronco, conseguem manter a integridade e o tamanho dos telômeros. Outras, que não a expressam, como as da pele, perdem as pontas teloméricas progressivamente à medida que se proliferam e entram num processo de envelhecimento e, eventualmente, morte", afirma.

Para ele, o exame só se justifica no caso de doenças raras decorrentes de falhas do mecanismo de reparo do DNA, como Síndrome de Bloom, ou mesmo naquelas decorrentes de atividade reduzida da telomerase, como na disqueratose congênita.

"Como exemplo, os telômeros dos homens são geralmente maiores que os das mulheres, mas isto não resulta em maior expectativa de vida para eles. Eu só indicaria o exame em casos específicos de algumas doenças genéticas raras. Quando usado indiscriminadamente, pode ser mal interpretado e causar mais malefício que benefício", opina.

Quaio comenta que, além disso, não há evidências consistentes de que o tamanho dos telômeros tenha ligação com cognição, expectativa de vida ou doenças comuns da população. "Estudos recentes derrubaram esta teoria", diz.

Fonte: UOL