O advogado da médica suspeita de ter apressado a morte de pacientes em um hospital de Curitiba disse que a polícia induziu a justiça ao erro na decretação da prisão dela e de mais quatro funcionários.
O advogado da médica suspeita de ter apressado a morte de pacientes em um hospital de Curitiba disse nesta quinta-feira (28) que a polícia induziu a justiça ao erro na decretação da prisão dela e de mais quatro funcionários. Segundo um trecho do inquérito, a médica disse que estava com a “cabeça tranquila para assassinar”. Mas, de acordo com outro documento policial, a tranquilidade era para “raciocinar”.
O inquérito policial, que teve o sigilo quebrado pela Justiça, traz depoimentos de testemunhas e transcrições de gravações telefônicas feitas com autorização judicial.
No documento, está escrito que, em uma conversa com um colega, a médica Virgínia Soares de Souza disse: “Esse foi caprichado, né?”. O colega respondeu: “Esse foi. Quadro clínico bonito, caprichou. Bem na hora que nós estamos tranquilos”. E Virgínia completou: “Nós estamos com a cabeça bem tranquila para assassinar, para tudo, né?”. Essa parte está sublinhada - e, em um caso como este, a palavra “assassinar” chama a atenção.
Mas, nesta quinta, o Jornal Nacional teve acesso a outro documento oficial. É uma correção da polícia, que esclareceu: “Onde se lê ‘assassinar’ na transcrição, leia-se ‘raciocinar’”. Ou seja, o que a médica realmente disse foi: “Nós estamos com a cabeça bem tranquila para raciocinar, para tudo, né.”
A defesa divulgou esse trecho da gravação.
O documento com a correção tem a data do último sábado, quando Virgínia Soares de Souza já estava presa. O advogado dela, Elias Assad, voltou, nesta quinta, a criticar a ação policial e anunciou que quer impedir que as gravações sejam usadas como prova.
“Nós estamos interpondo hoje um pedido visando a declaração de falsidade documental para ser retirado do inquérito este material que não corresponde à verdade, para que não tenha efeito nenhum esta prova, seja considerada ilícita. Eu creio que isto foi um indutor de erro judicial, induziram o juiz a decretar essa prisão de forma reprovável”, afirmou o advogado.
A delegada Paula Brisola, responsável pela investigação, não quis gravar entrevista. Em nota, a Polícia Civil do Paraná declarou que a correção consta dos autos e que todos os mandados de prisão expedidos pela Justiça foram concedidos devido à análise de um inquérito com cerca de mil páginas - e não de um verbo.
Além disso, segundo a polícia, diversas testemunhas relataram que a doutora Virgínia reduzia o nível de oxigênio de aparelhos respiradores da UTI, e ainda dava medicamentos para bloquear as vias respiratórias de pacientes em estado grave.
Virgínia Soares de Souza foi transferida de um centro de triagem para um presídio feminino, na região de Curitiba. Na mesma prisão, estão uma médica da equipe e uma enfermeira suspeitas de envolvimento no caso. Outros dois médicos anestesistas da UTI foram levados da delegacia onde estavam para uma casa de custódia.
O texto da sentença que decretou a prisão dos suspeitos não cita o trecho corrigido pela polícia. A sentença se baseou nos depoimentos de testemunhas, em outras gravações telefônicas, e também em ameaças de morte recebidas pela delegada e pelos investigadores do caso.
Fonte: Globo.com
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.