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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

domingo, 9 de maio de 2010

Internet vira espécie de consultório médico, mas erros de informação são comuns e perigosos

Ao digitar a palavra hipertensão no Google, o mais popular programa de buscas na internet, aparecem 1,2 milhão de páginas em que o nome da doença é citado. Também há anúncios relacionados ao assunto — um deles prometendo a cura da impotência sexual. Na lista de resultados, há páginas do Ministério da Saúde, de hospitais, de estudos científicos e da sociedade médica especializada em hipertensão. Porém, em meio às informações de fontes seguras, a pessoa que faz a busca corre o risco de ler textos elaborados por leigos, sem qualquer fundamentação teórica. Como, por exemplo, o conselho de se misturar remédio a uma fórmula feita com alho e azeite de oliva.

A rede mundial de computadores tornou-se uma interminável e bem acessada enciclopédia de termos médicos. No Brasil, de acordo com uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet, 39% dos usuários usam a web para procurar informações relacionadas à saúde, sendo que o percentual sobe para 60% quando se consideram apenas os quem têm nível superior. Embora reconheçam a utilidade da internet na democratização da medicina, especialistas também se preocupam com a qualidade e o uso que se faz das informações.

“Não há a menor dúvida de que a internet contribui para a informação. O médico que não souber o que está acontecendo na área pode passar por um grande constrangimento, porque o paciente vai chegar ao consultório atualizado”, acredita Reginaldo Albuquerque, clínico-geral e endocrinologista do Exame Medicina Diagnóstico/Dasa e editor do site www.diabetes.org.br, da Sociedade Brasileira de Diabetes. “Mas nada pode substituir a relação entre médico e paciente. Algumas pessoas, por exemplo, querem checar a opinião de seu médico com a do site. Isso é perigoso. Há muita informação na internet, como a que adoçante dá câncer, que se pode jogar no lixo”, alerta.

A funcionária pública Zenaide Gonçalves da Silva Ramos, 44 anos, chega a dizer: “Confio mais no ‘Dr. Google’ do que nos médicos”. Ela usa o programa para fazer todo o tipo de buscas — é a página inicial do computador —, mas reconhece que saúde é o tema de que mais gosta. “Procuro desde o que vai aparecendo de novidades até dúvidas que tenho. De uma dor no pé a casos de doenças mais complexas”, conta Zenaide, que é a buscadora oficial de assuntos médicos da família. “Se, por exemplo, o dermatologista me passar uma receita, eu entro na internet para pegar informações sobre as propriedades dos ingredientes e ver outras opiniões, para ter certeza de que posso usar mesmo”, conta.

Zenaide usa o buscador até para interpretar exames. “Fico tentando decifrar. Chego no médico e já vou falando tudo que tenho”, afirma. Para ela, o tempo de espera para conseguir marcar uma consulta é algo que estimula comportamentos parecidos. “Se você tem infecção urinária, faz o exame, que demora sete dias para ficar pronto, por exemplo. Até lá, você já foi ao Google, achou o remédio e resolveu o problema.” Apesar da confiança depositada na internet, ela diz que procura filtrar apenas as boas informações. “Na minha família, já teve caso da pessoa ter um sintoma e o Google a levar a pensar que estava com uma doença seríssima. A pessoa tem que filtrar, se não fica em pânico mesmo”, diz.

Neurose
O presidente da Associação Paulista de Medicina e diretor da Associação Médica Brasileira, Jorge Carlos Machado Curi, alerta que esse tipo de episódio é comum. “A pessoa conclui apressadamente que tem uma determinada doença. Começa a ver tanta coisa que fica psicótica e neurótica, avidamente procurando informações e achando que tem tudo”, afirma. “Hoje, com tantas informações, até os médicos têm dificuldades de separar o joio do trigo. Imagine para o leigo. Um risco é de, ao escolher o caminho errado, a pessoa acabar até retardando o diagnóstico de uma doença real. Ou então o contrário, passar muito tempo achando que tem algo que não existe”, afirma.

A administradora Vanessa Holanda Timoteo da Silva, 26 anos, é adepta das consultas online e até mesmo da automedicação. “Normalmente, se estou com algum sintoma, faço a busca para ver o que posso ter ou procurar algum remédio, desses que não são controlados, ou receitas caseiras de remédios”, conta. Ela afirma que nunca teve nenhum problema adverso por causa das fórmulas “receitadas” pela internet.

Curiosa, a administradora gosta de tentar decifrar os resultados de exames na web. “Adianta bastante, nunca levei nenhum susto com os resultados. Confio 90% do Google”, diz. O clínico-geral Reginaldo Albuquerque, porém, adverte que é muito perigoso o leigo tentar interpretar exames. “O exame, por si, não faz diagnóstico de nada. É um número que pode ter significados diferentes dependendo do estado do paciente, dos sintomas e do exame clínico, realizado pelo médico”, explica.

Fonte: Correio Braziliense