Brasil é um dos países eleitos como chave para receber produtos, mas no caminho estão as já conhecidas barreiras de regulamentação
Em Białystok, cidade no nordeste da Polônia e quase na fronteira com a Bielo-Rússia, os irmãos Marcin e Michał Charkiewicz levam adiante a empresa fundada pelo pai, a CHM, especializada em implantes ortopédicos. A companhia, em suas três décadas de existência, passou por períodos totalmente diferentes da história do país: nasceu sob o regime comunista e, hoje, com seus 400 funcionários e 11 milhões de euros em receita, tudo que mais deseja é aumentar o volume de negócios com outros países e, assim, exportar cada vez mais.
A CHM é uma empresa familiar de capital fechado, mas como a Polônia, parece já ter deixado pra trás os tempos de um mercado recluso. “Antes, a Rússia era o primeiro mercado para nós por conta da semelhança cultural, agora são Ásia, Oriente Médio e América do Sul”, conta o diretor médico da CHM, Marcin. A Colômbia, por exemplo, é o primeiro mercado para a companhia na região sul-americana.
A abertura do país para o mercado global também está presente nas ruas, logicamente com as inúmeras multinacionais, mas também na língua: longe da capital, os líderes da CHM conversam com à reportagem em inglês; na capital Varsóvia, de um atendente de lanchonete em um shopping center ao funcionário de uma estação de trem, o idioma também está presente. O investimento na língua global dos negócios é fundamental para uma nação encastelada por seu idioma e que quer se mostrar como um player global. Assim, o governo colocou como estratégico o aprendizado da língua inglesa como oficial pós abertura, o que permitiu ao país desfrutar de uma geração de jovens adultos “prontos para exportação”, seja para trabalhar em companhias na própria Polônia ou nos países vizinhos da União Europeia, um dos lugares mais procurados pelos trabalhadores após a entrada do país como membro em 2004.
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De acordo com o diretor do departamento de promoção e exportação da consultoria Angeron, Rafał Gorgol, empresa parceria do governo e responsável pelo consórcio Polska Medical, “a economia da Polônia tem um problema de imagem, pois ela ainda não é reconhecida ao redor do mundo”. Uma pesquisa organizada pelo governo entrevistou diretores e gerentes de países como Grã- Bretanha, França, China, Alemanha, Rússia, República Checa e Ucrânia mostrou que quando perguntados sobre a primeira referência do país, a resposta era o Papa João Paulo II (Karol Woytila) e o movimento da Solidariedade. “Mas quando eram questionados sobre negócios e economia, eles diziam: ‘tenho um diretor polonês em meu departamento de P&D, ele é muito qualificado e estou muito satisfeito com o trabalho dele na empresa’. A informação demostra que eles conhecem a Polônia por conta dos profissionais, porque muitos trabalham fora do país, seja por conta da empresa ou por causa da imigração”, conta Gorgol, do Polska Medical.
Em razão disso, o ministério da economia identificou 15 setores chaves para impulsionar o crescimento nos negócios e entre eles está justamente a indústria de equipamentos médicos, reconhecida como um potencial exportador. E não é para menos, pois o segmento expandiu nos últimos anos. Em 2011, as exportações alcançaram 524.2 milhões de dólares, um crescimento significativo ao se comparar com os resultados de 1992 (quase 20 anos), onde a cifra era de 18.6 milhões. Atualmente, um dos principais compradores são membros da União Europeia, com cerca de 80% das importações. A grande campeã é a Alemanha com 42%, de acordo com pesquisa da UN Comtrade data, que mostra dados de 2011. O Brasil está presente na porcentagem de 18% reservados ao grupo de “outros países”, com exceção de China, Rússia e Estados Unidos, que importam do país 1%, 3% e 8%, respectivamente.
Barreiras
Para fortalecer a posição e a participação em mercados como o brasileiro, o governo firmou o consórcio Polska Medical por três anos (2012-2015) e tem divulgado a indústria médica polonesa. O consórcio também considera como mercados em potencial: Rússia, Estados Unidos, Emirados Árabes e Alemanha- que apesar de ser grande importadora não é uma realidade homogênea para as cerca de 50 empresas que compõe o programa.
Se a língua, como citado no começo da reportagem, já não é uma das dificuldades, a cultura para se fazer negócios ainda é vista como um obstáculo, segundo Marcin, da CHM. Mas nada se compara com as queixas sobre o aspecto regulatório. A CHM demorou para conseguir que seus produtos entrassem em solo brasileiro, mas hoje isso ocorre normalmente em parceria com o distribuidor.
As reclamações são corroboradas pelo gerente de exportação da Balton, Mariuz Sarna. A empresa tem 400 funcionários é fabricante de inúmeros produtos para ginecologia, cardiologia, anestesiologia, entre outros. A empresa também já atua no Brasil, em parceria com um distribuidor, considera o Brasil um importante player, mas vê nos procedimentos de registro um grande obstáculo. Ele conta que há uma linha de produtos esperando ser aprovada pelo órgão desde 2010. “Se nós recebêssemos a permissão este ano, os nossos produtos já entrariam obsoletos, pois há uma nova geração de produtos”, reclama. O executivo diz entender que há protecionismo de mercado. ”Mas o que não entendo é porque há apenas 14 profissionais trabalhando, enquanto no FDA há milhares”, dispara, se referindo aos inspetores do órgão responsáveis pela visita nas fábricas.
Para melhorar a relação, Gogol pretende realizar encontros com especialistas locais e também com representantes do órgão. “Vamos entrar em contato com instituições para conhecer mais sobre como são os procedimentos no Brasil, na Rússia, Estados Unidos etc. No Brasil pretendemos encontrar com representantes da Anvisa, assim ela poderá apresentar para as nossas empresas como funciona o mercado brasileiro, qual é o processo no País e quanto tempo leva os procedimentos”. Em março, a Anvisa abriu concurso para 314 vagas em diferentes funções.
Fonte: SaúdeWeb
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.