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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Intoxicação por substância química pode ter causado mortes em Campinas

Segundo as investigações iniciais, as vítimas podem ter sofrido uma intoxicação por algum produto administrado no organismo

Técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, e a Secretaria de Saúde de Campinas investigam a possibilidade de uma substância química, ainda não identificada, ter provocado a morte dos três pacientes na segunda-feira, após a realização de exames de ressonância magnética no Hospital Vera Cruz.

``A causa mais provável, mas ainda sem embasamento, é que tenha ocorrido um quadro toxicológico, de natureza qualitativa ou quantitativa, que provocou a morte dessas pessoas``, afirmou a gerente de Regulação e Controle Sanitário em Serviço de Saúde da Anvisa, Maria Ângela da Paz. Ela e outros dois técnicos do órgão chegaram na cidade ontem para auxiliar nas investigações.

Segundo as investigações iniciais, as vítimas podem ter sofrido uma intoxicação por algum produto administrado no organismo na hora da aplicação do contraste (composto químico, a base de gadolínio, usado no exame para melhorar a qualidade das imagens e do diagnóstico).

A diretora do Departamento de Vigilância em Saúde, Brigina Kemp, explicou que essa substância química injetada provocou uma reação hepática aguda, levando os pacientes à morte. As vítimas - dois homens, de 36 e 39 anos, e uma mulher de 25 - tiveram parada cardiorrespiratória.

Nenhuma delas apresentava problemas de saúde e todas fizeram ressonância magnética do crânio, segundo o hospital. Os homens passaram mal minutos depois do exame e a mulher chegou a deixar a unidade médica, mas retornou após sentir dores.

``Não descartamos nenhuma outra linha de investigação, mas os resultados dos exames, como o de hemograma, sugerem que houve uma reação química``, diz Brigina. Apenas os resultados dos exames do Instituto Médico-Legal, nos corpos, e as análises do Instituto Adolfo Lutz, nos materiais e produtos utilizados nos procedimentos, poderão apontar a causa das mortes.

A especialista da Anvisa afirmou que o agente toxicológico investigado pode estar presente na seringa, no soro, no medicamento aplicado no contraste ou pode ser o próprio gadolínio (contraste) utilizado em quantidade superior à permitida. Não está descartada a possibilidade de falha humana, de equipamento ou contaminação proposital.

Segundo Brigina, a evolução clínica dos pacientes é um forte indicativo de intoxicação.

``Não descartamos uma reação a um agente microbiológico, como um vírus ou bactéria, mas o quadro de evolução não sugere isso.`` Se a causa das mortes fosse uma infecção por esses agentes, os pacientes teriam apresentado outro quadro, com febre e evolução mais lenta, afirma.

Interdição. Por conta das suspeitas de que as mortes podem ter relação com o contraste usado, as Secretarias de Saúde de Campinas e do Estado interditaram cautelarmente os lotes de produtos utilizados nos exames de ressonância magnética usados no hospital de Campinas.

São quatro marcas de soro e duas de gadolínio (mais informações nesta pág.). De acordo com a Anvisa, há no País seis marcas em circulação e todas têm certificado de segurança e eficácia obtido após uma série de estudos e testes exigidos para liberação de medicamentos sensíveis.

Nacionalmente, a Anvisa entendeu não ser necessária a suspensão dos produtos. Segundo a agência, são realizados milhares de exames diariamente no País e, embora o caso requeira uma investigação rigorosa, a situação é localizada e não caracteriza uma onda de problemas que justifique retirar os produtos do mercado em nível nacional.

Em Campinas, os exames de ressonância magnética com contraste, que haviam sido suspensos nas demais clínicas e hospitais na terça-feira, foram liberados ontem pela Secretaria Estadual de Saúde.

Os locais podem fazer os exames sem utilizar os lotes e as marcas embargados sanitariamente. / COLABOROU VANNILDO MENDES


Polícia colhe depoimento de mais 5 pessoas

A Polícia Civil ouviu ontem mais cinco pessoas, e uma equipe do Instituto de Criminalística realizou novos exames de perícia no Centro Radiológico do Hospital Vera Cruz, onde dois homens e uma mulher morreram após exame de ressonância magnética.

O inquérito foi aberto pelo delegado do 1.º Distrito Policial, Alessandro Marques, que acompanhou o trabalho das autoridades de saúde, recolheu os materiais para perícia e está colhendo o depoimento de todos os envolvidos nos procedimentos. Ontem foram ouvidos três técnicos de enfermagem e dois enfermeiros, totalizando sete pessoas até agora.

De acordo com o advogado do Centro Radiológico do Vera Cruz, Cláudio Ortis, o objetivo dos depoimentos tomados pela polícia foi esclarecer o funcionamento da máquina de ressonância magnética e como é realizado o procedimento.

Imagens. A família de uma das vítimas está cobrando da polícia as imagens do circuito interno de vídeo do hospital para confirmar o horário em que foram realizados os exames e que aconteceram as mortes e para saber como foi o atendimento prestado.

A direção do Vera Cruz informou que o atendimento às três vítimas foi imediato, assim que os pacientes comunicaram que estavam passando mal, e que em um dos casos a morte aconteceu durante o transporte do centro radiológico para o pronto-socorro do hospital, que fica no mesmo prédio.

O diretor administrativo do Vera Cruz, Gustavo Sérgio Carvalho, afirmou que as três vítimas foram submetidas a todos os procedimentos de reanimação e as mortes ocorreram muito rapidamente. / R.B.

Associação relata grande número de faltas a exames
MARIANA LENHARO - O Estado de S.Paulo

Muitos pacientes que tinham exames de ressonância magnética agendados para ontem não compareceram. A informação é do médico radiologista Conrado Cavalcanti, conselheiro técnico da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). ``O número de faltas aumentou muito em todos os serviços: desde hospitais como o Sírio-Libanês e o Albert Einstein, até clínicas pequenas no interior. Deixando de fazer o exame, os pacientes terão o diagnóstico atrasado``, diz.

Entre os que compareceram, muitos não permitiram a injeção do contraste, segundo Cavalcanti. ``Criou-se um ambiente de pânico e o grande prejudicado é o paciente. Nos casos em que o contraste é indicado, ele traz um grande benefício para o diagnóstico.`` Segundo as assessorias de imprensa do Einstein e do Sírio-Libanês, não foi registrado um número anormal de faltas.

Especialistas ressaltam que ainda não é possível ter ideia do que pode ter dado errado no caso dos três pacientes de Campinas. Para o médico radiologista Cláudio Campi de Castro, professor responsável pela disciplina de Diagnóstico por Imagem da Faculdade de Medicina do ABC, é importante saber a causa exata da morte dos pacientes e aguardar a análise dos produtos utilizados nos procedimentos.

Reação. ``A hipótese de que o problema seja o contraste é muito pouco provável. Poderia até ter sido, mas se foram injetados contrastes de fabricantes diferentes, isso torna a situação pouco possível``, diz Castro.

Ele acrescenta que qualquer medicamento aplicado na veia pode provocar reação alérgica e levar à morte. Mas a incidência do problema é muito pequena, ``menos de um em um milhão``.

NO RIO, JOVEM TEVE 3 PARADAS CARDÍACAS
Reação alérgica após ressonância ocorreu em 2012
FERNANDA BASSETTE - O Estado de S.Paulo

A técnica de enfermagem Lidiane da Silva Garcia, de 32 anos, moradora de São Gonçalo (RJ), sofreu três paradas cardíacas após fazer uma ressonância magnética de pelve com contraste, no laboratório Labs D`Or, em setembro do ano passado.

De acordo com seu marido, Adriano da Silva Garcia, ela não tinha nenhum problema de saúde e teve uma reação alérgica imediatamente após a aplicação do contraste gadolínio - o mesmo usado nos três pacientes que morreram em Campinas.

``Ela começou a ficar vermelha e a se coçar. Acionaram uma ambulância para transferi-la para um hospital. Ela teve a primeira parada cardíaca dentro da ambulância``, conta Garcia.

Já no hospital, Lidiane foi reanimada e ficou internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) por uma semana. Recebeu alta, mas voltou a passar mal em casa, onde teve outra parada cardíaca.

``Ela voltou para o hospital, onde ficou internada por mais de dois meses. O laboratório nunca nos explicou o que aconteceu, apenas informou que era um caso isolado. Agora, com essas mortes, resolvemos investigar``, diz.

Lidiane recebeu alta, mas toma 3 antialérgicos e 2 antidepressivos todos os dias. Tem problemas respiratórios - ela anda sempre com um cilindro de oxigênio, para caso lhe falte ar. ``Vivemos 100% em alerta``, diz.

Em nota, o Labs D`Or informou que ``após a intervenção, a paciente apresentou lesões cutâneas e falta de ar, em quadro indicativo de reação alérgica``. Diz ainda que ela foi encaminhada para um hospital, que passou a ser o responsável pelo seu atendimento. A nota também diz que Lidiane passou por uma entrevista e não relatou ter alergia antes de fazer o exame.

Fonte: RICARDO BRANDT, CORRESPONDENTE / CAMPINAS - O Estado de S.Paulo