A Ordem dos Médicos de Portugal, assim que o assunto foi anunciado há dois meses, levantou dúvidas sobre o plano
GENEBRA – O governo brasileiro vendeu a ideia de que iria oferecer vagas para médicos portugueses como forma de lutar contra a crise econômica em Portugal. Mas o programa Mais Médicos por enquanto apenas atraiu aposentados e profissionais que, por sua idade, foram obrigados a deixar de atuar em Portugal.
A constatação é do presidente da Ordem dos Médicos de Portugal, José Manuel Silva. “Todos os que foram ao Brasil já estavam aposentados, sem exceção”, contou o médico português ao Estado. Segundo ele, um total de 45 médicos portugueses optaram por viajar ao Brasil e todos tinham mais de 65 anos, idade de aposentadoria em Portugal. Pelas leis em Lisboa, esses médicos já não podem atuar nos hospitais públicos de Portugal.
“Em Lisboa, temos registrado apenas nove médicos desempregados e eles não se inscreveram no projeto brasileiro”, insistiu. “Não há como pensar que o projeto teria sucesso entre os portugueses. Só mesmo os aposentados viajaram”, alertou. Segundo Silva, mesmo aqueles que foram ao Brasil já tinham algum tipo de relação com o país ou eram mesmo filhos ou nascidos no Brasil.
Para ele, os primeiros sinais mostram que oferta feita pelo governo brasileiro aos médicos portugueses não atrairá uma quantidade significativa de profissionais. “Nessas condições, duvidamos que o Brasil consiga atrair um número importante de profissionais de Portugal”, declarou. “Dificilmente um profissionais que estudou medicina com padrões europeus de infra-estrutura terá condições de se adaptar a um local onde faltam recursos”, declarou.
A Ordem dos Médicos de Portugal, assim que o assunto foi anunciado há dois meses, levantou dúvidas sobre o plano. Mas resolveu esperar até que o governo brasileiro fizesse a apresentação da estratégia para se pronunciar.
“O que percebemos é que, se essas são as condições, os médicos portugueses que queiram sair do país buscarão ofertas na Europa e em outros países, e não em um lugar sem estrutura”, disse Silva.
Para Silva, os esforços do governo em lidar com a saúde só terão resultados se maiores investimentos forem feitos. “Nesse caso sim vale trazer profissionais de fora para preencher posições. Mas se não há ninguém no Brasil que quer trabalhar nesses locais, por algo será. O que parece que acontece é que se quer tapar o sol com a peneira”, completou.
Fonte: O Estado de S.Paulo
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.