*Por Bráulio Luna Filho
Frustrados com a saúde pública, os pacientes acabam descontando no médico a precariedade dos hospitais e a demora do atendimento
É extremamente preocupante a frequência com que médicos são agredidos nos locais de trabalho por pacientes, familiares ou acompanhantes. Em pesquisa encomendada pelo Cremesp ao Datafolha, com amostra probabilística de 617 médicos, 64% dos entrevistados já tomaram conhecimento; 17% já vivenciaram e conhecem um colega que vivenciou um episódio de agressão, seja física, verbal ou psicológica; e 5 % foram pessoalmente agredidos no último ano!
O respeito interpessoal é fundamental para que haja uma relação de confiança e boa convivência entre médicos e pacientes. Mas, diante de um cenário hostil, em que seis em cada dez colegas referem que os pacientes os respeitam cada vez menos, os episódios de violência tornam ainda mais difícil o exercício da Medicina. Principalmente se levarmos em conta as condições de infraestrutura, salário e falta de perspectiva de uma carreira que exige longos anos de estudo e dedicação, quase que total, daqueles que a exercem.
Lamentável é que essas agressões não ocorrem raramente. De acordo com os dados da pesquisa, 32% dos entrevistados afirmam que esses episódios acontecem com frequência. Isso é comprovado na parte da pesquisa que aborda a visão da população. Nesta última, 35% dos cidadãos entrevistados presenciaram pessoas agredindo verbalmente os médicos; 14% presenciaram ameaças psicológicas; e 4% até agressões físicas.
Não é surpreendente que apenas 45% dos médicos referem satisfação com a profissão. Ameaças ao próprio bem-estar e à saúde física e mental dos profissionais, além das condições de trabalho precárias, levam muitos a terem decepções com a carreira que idealizaram. Vários estão infelizes, com medo, e inseguros com a rotina de trabalho.
Os entrevistados afirmaram que a maioria dos problemas com pacientes ocorre durante as consultas, o que caracteriza um ambiente de trabalho extremamente desfavorável. A infraestrutura é fator determinante para os momentos de fúria dos pacientes. Frustrados com a saúde pública, acabam descontando no médico aquilo que é decorrente da precariedade dos hospitais e da demora do atendimento.
A maioria dos profissionais concorda que investir nas condições de trabalho (33%), regularizar e fiscalizar hospitais, consultórios e postos de saúde (27%) seriam os primeiros passos para começar a erradicar os casos de violência. As providências imediatas devem ser tomadas pelas autoridades. Se isso não ocorrer, a desmotivação entre os médicos crescerá, e os estragos serão irreparáveis para a saúde dos pacientes. Não podemos permitir essa catástrofe! Não podemos nos omitir!
Fonte: CREMESP
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.