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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico, Odontológico e da Saúde (FMRP-USP). Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado do curso de Bioética e Biodireito do HCor. Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Em 13 dias, `projeto Samba` virou maior negócio do setor de saúde

Compra da Amil pelo grupo UnitedHealth recebeu a aprovação mais rápida do ano pela ANS

Durante dois meses, mais de 120 integrantes dos grupos sob codinome Utah e Atlanta, nos EUA e no Brasil, negociaram sob sigilo absoluto para evitar que algum rival percebesse do que se tratava o plano em gestação. O silêncio chegou ao fim no dia 8 de outubro, quando foi deflagrado o ``projeto Samba``, nome dado ao maior negócio na área de saúde privada da história do Brasil.

Naquela manhã, a americana UnitedHealth Group, ou Utah na terminologia secreta utilizada, anunciou a compra da Amil, apelidada de Atlanta, a maior operadora de planos de saúde do Brasil.

A operação, apesar de complexa, teve aval da burocracia oficial brasileira em tempo recorde para os padrões do negócio. Os meses de intensas negociações destoam dos 13 dias em que o processo foi analisado e aprovado na ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), responsável por autorizar operações desse tipo no Brasil. Levantamento realizado pela Folha indica que foi o processo aprovado com a tramitação mais célere neste ano. Há negócios que estão sob análise há meses.

A venda da Amil, que deve chegar a R$ 10 bilhões, é a maior operação já analisada pela agência.

``Eu me dou bem com todos na ANS. Achei até que demorou muito para aprovar. Falei isso pro Maurício [Ceschin, diretor-presidente da agência até 19 de novembro]``, afirma Edson Bueno, fundador da Amil.

``Uma empresa desse tamanho, com caixa, reputação, fazendo um investimento desse porte no Brasil, tem que ser recebida com um tapete vermelho. Não tem nem o que analisar``, completa.

Bueno e Ceschin se conhecem há anos. O então diretor-presidente da agência já frequentou a casa do empresário em Búzios, famosa por ser ponto de encontro de executivos do setor. Também participou de encontros no balneário o então diretor de Normas e Habilitações da ANS, Leandro Reis Tavares, cujo mandato se encerrou no último dia 19. Ambos integravam o colegiado da agência, composto por cinco diretores, instância que aprovou o negócio.

Os dois também tiveram, no passado, ligações com a Amil. Ceschin foi diretor da Medial, comprada pela empresa em 2009. Tavares foi chefe-médico da Amil. Bueno e o presidente da ANS não veem nenhum conflito de interesse. A ANS atribui a rapidez na análise da venda à agilidade da Amil em entregar os documentos. Tavares não foi localizado.

Conversas diretas destravaram impasse

A compra da Amil carimba a entrada no Brasil da United, uma gigante com 78 milhões de clientes em 17 países e faturamento de mais de US$ 100 bilhões por ano. Para que o ``projeto Samba`` saísse do papel, o brasileiro Edson Bueno, da Amil, e Steve Hemsley, presidente da United, precisaram deixar de lado o modorrento protocolo que cerca operações desse tipo: dispensaram a assessoria de bancos, passaram a negociar pessoalmente e baixaram a regra dos codinomes para todos os que participaram da fase final.

A estratégia que culminou na operação foi desenhada em agosto, durante almoço entre os dois executivos na casa de veraneio do brasileiro em Pasadena, Califórnia. A negociação havia sido enterrada um mês antes devido a um impasse sobre preço final. Até então, a United era representada pelo banco JPMorgan. A Amil, pelo Credit Suisse.

``Steve pediu que deixássemos os bancos de lado e tratássemos diretamente. Falei que tudo bem, mas que não adiantava vir com preço baixo de novo``, diverte-se Bueno. ``Ele concordou. Mas disse que não adiantava chegar com aqueles valores altos.``

O meio-termo veio em cerca de duas semanas. O dono da Amil, que nos últimos cinco anos tornou-se um dos empresários mais agressivos do país ao comprar quase 20 empresas, concordou em passar o controle de sua operadora, fundada em 1972 por ele e a ex-mulher, Dulce Pugliese.

Em troca, recebeu um prêmio de 24% sobre o valor de mercado da Amil e uma participação de 0,8% no capital da United, suficiente para garantir assento no conselho de administração da empresa.

DEZ MAIS RICOS

Isso leva Bueno à posição de maior acionista individual do grupo americano, o que, juntamente com os R$ 3,3 bilhões recebidos pela maioria de suas ações da Amil, deve catapultá-lo ao seleto grupo dos dez homens mais ricos do mundo. ``Sair como vendido seria muito chato. Queríamos fazer parte de algo maior``, diz Bueno ao comentar seu novo status no setor.

Os codinomes usados pelas equipes de Edson Bueno e do executivo Steve Hemsley, presidente da United, visavam evitar vazamentos sobre a operação das duas empresas, que têm ações em Bolsa e cujas primeiras conversas para uma associação haviam sido iniciadas em fevereiro deste ano. A preocupação com sigilo beirava a ``neurose``, segundo relatos feitos à Folha por participantes das negociações. Havia senha e contrato de confidencialidade nas várias etapas da operação.

A United demonstrou, até mesmo, receio com o fato de o ex-ministro Antonio Palocci figurar como consultor da Amil, o que poderia causar constrangimentos. Ministro mais poderoso do primeiro ano do governo Dilma, Palocci deixou a Casa Civil após a Folha revelar que multiplicou o patrimônio alegando consultorias.

A United foi avisada de que o ex-ministro fez esse tipo de serviço para a Amil na compra da operadora de saúde Medial e em aquisições no Nordeste, mas que hoje não trabalharia mais com a empresa brasileira.

Estratégia envolve planos para baixa renda, expansão regional e tecnologia

Para atingir sua previsão de dobrar a carteira de clientes em cinco anos, a nova Amil pretende investir em novas tecnologias, em planos para a baixa renda, na expansão para Estados onde ainda não está presente e no aumento do número de planos que exigem coparticipação. Nesses casos, os clientes pagam uma parte de exames, consultas e cirurgias.

Hoje, 30% dos planos da Amil são desse tipo. Os planos da UnitedHealth, no entanto, são quase todos nesse formato e incluem, inclusive, limites para a cobertura de gastos com internação. ``Quem não quiser não compra o plano de coparticipação. Mas pagará mais caro``, diz Edson Bueno, presidente da empresa.

A Amil afirma que não há previsão para planos limitados por enquanto.

Entre órgãos de defesa do consumidor, há preocupação sobre o modelo que a United irá implementar na Amil. E, no meio jurídico, questionamentos sobre o fato de a americana assumir 22 hospitais, uma vez que a Constituição brasileira impede a participação estrangeira nessa área.

A Amil alega que os hospitais não são o negócio principal da empresa e se ampara num parecer da ANS que a autorizou a mantê-los após a abertura de capital -a maior parte dos acionistas da Amil na Bolsa é estrangeira.

NOVA MARCA

Hoje a operadora possui 5,8 milhões de clientes, entre donos de planos de saúde e de assistência odontológica, e fatura cerca de R$ 10 bilhões por ano. ``Antes, tínhamos limitação de capital. Mas a United quer crescimento rápido. Vai ser uma oportunidade ímpar``, diz Bueno.

O lançamento de uma nova marca de planos de saúde populares está prevista. O grupo que estudará o modelo de negócio está sendo montado e os trabalhos começam em 15 dias.

Os planos terão de custar menos de R$ 90 por mês, que é a tarifa média dos planos Dix, os mais baratos do grupo Amil atualmente, e contarão com uma rede de três ou quatro hospitais para atender seu conjunto de filiados em cada cidade.

A Amil irá também importar tecnologias e sistemas de informação usados hoje pela United nos Estados Unidos. Foram criados nove grupos de trabalho, com representantes das duas empresas, que irão viajar entre Brasil e Estados Unidos nos próximos meses para definir as adaptações necessárias.

A ideia é que a Amil tenha um sistema nacional pelo qual médicos, laboratórios e hospitais possam se comunicar e trocar informações, nos moldes do que faz a United hoje nos Estados Unidos.

``Isso permitirá que o médico tenha o histórico do paciente on-line, com todos os exames que ele já fez, de forma fácil e rápida. Teremos recursos para fazer telemedicina no Brasil``, afirma Bueno, que estima pelo menos três anos para que a empresa incorpore as novas tecnologias.

A Amil, que nos últimos anos tornou-se consolidadora do mercado de saúde brasileiro, passará também a olhar aquisições em países vizinhos a partir de agora. ``Seremos a plataforma de expansão da United na América Latina``, afirma o fundador da empresa. No Brasil, a meta é ter operações da Amil em todos os Estados. A expansão começará em breve pelos Estados da Bahia e do Rio Grande do Sul.
(RA e AM)

Fonte: Folha de S.Paulo - RENATA AGOSTINI /ANDREZA MATAIS