A Polícia Civil de Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo) identificou digitais de seis médicos do Samu (Serviço Atendimento Médico de Urgência) nas próteses de silicone usadas para burlar o sistema de controle de presença no relógio de ponto da instituição. Na ocasião, a médica Thauane Nunes Ferreira, 29, foi presa em flagrante ao bater ponto para os colegas com dedos feitos de silicone. A identidade dos suspeitos, no entanto, não foi revelada.
A identificação foi feita por peritos que estiveram na sede do Samu. De acordo com o delegado Wagner Lombisani, que apura o caso, a partir da identificação, a polícia deverá interrogar os médicos e determinar como o esquema funcionava. "Precisamos delimitar quem serão os investigados, e o resultado desses exames periciais é de essencial importância para isso", disse.
Lombisani, no entanto, não fixou prazo para que as oitivas aconteçam.
Ele disse ainda que espera que outros envolvidos no caso, ou mesmo funcionários que não integravam o esquema, mas sabiam o que acontecia, possam procurar a polícia e auxiliar nas investigações. "Alguém que trabalhou ou ainda trabalha no local pode vir à polícia e contar o que sabe. Seria uma ajuda importante", disse.
O advogado de Thauane, Celestino Gomes Antunes, disse que os exames provam que a versão de sua cliente está correta. A versão é que a médica era coagida a participar do esquema. "Ela era contratada, foi incumbida de bater o ponto pelos demais", afirmou.
O ponto principal agora, para Antunes, é que o depoimento dos demais médicos envolvidos seja tomado para comprovar o esquema. Embora quatro médicos, incluindo Thauane, tenham sido afastados, Antunes afirma que há outros três envolvidos.
"Ela tinha seis dedos de silicone, de seis médicos. Gostaria de saber porque apenas três deles, além dela, foram afastados. Há três médicos que estão sendo protegidos. Queremos saber as causas. O depoimento deles é essencial."
O caso
Na semana passada, a Guarda Municipal de Ferraz de Vasconcelos recebeu uma denúncia de que servidores do Samu estariam tendo o ponto batido por colegas sem que fossem trabalhar. A partir de então, a guarda procurou o Ministério Público, que autorizou a captação de imagens do esquema como forma de provar a irregularidade.
No domingo, uma equipe de guardas se deslocou para a prefeitura, onde os servidores do Samu batem o ponto e, por volta das 7h, flagrou Thauane marcando o ponto eletrônico para colegas.
Com ela, foram apreendidos seis dedos de silicone, utilizados para fraudar o ponto, e comprovantes impressos no nome dele e de outros três colegas de trabalho, que não estavam presentes, pelo equipamento que controla o horário dos funcionários. Ainda no domingo, por volta das 18h40, a Justiça concedeu um habeas corpus e ela foi solta.
Depois de presa, Thauane admitiu que batia o ponto para os colegas e afirmou, segundo versão registrada no Boletim de Ocorrência, que o diretor do Samu, Jorge Cury, não apenas sabia do esquema como também era dele a determinação para que o ponto fosse fraudado.
Ele receberia R$ 1.200 por plantão de cada um dos médicos que não iam trabalhar, segundo versão de Thauane. A prefeitura afastou Thauane, os três médicos que tinham comprovanetes de pontos em poder de Thauane e o diretor do Samu.
O coordenador afastado do Samu tem sido procurado desde segunda-feira pelo UOL, mas não atendeu às ligações nem retornou aos recados deixados pela reportagem em seu telefone móvel. Em entrevista concedia à imprensa da cidade, no entanto, Cury negou as acusações e chegou a classificar a acusação da médica como absurda.
Fonte: UOL
Espaço para informação sobre temas relacionados ao direito médico, odontológico, da saúde e bioética.
- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.