Ação de profissionais não qualificados e pré-operatório fraco por parte de pacientes levam a casos de tragédias durante ou depois da cirurgia.
A cada ano cerca de 600 mil cirurgias plásticas são realizadas no Brasil – um dos campeões mundiais nesse tipo de procedimento médico. Mas o país da busca pela beleza também é um dos que mais têm casos de morte. A lipoaspiração é a queridinha das mulheres, e é exatamente por isso que o maior número de óbitos ocorre neste tipo de cirurgia. Especialistas apontam como uma das causas a atuação de profissionais não qualificados. Esse tema estará em debate no XI Simpósio Internacional de Cirurgia Plástica, que começa hoje em São Paulo.
Não existe um levantamento oficial sobre os erros médicos ligados a cirurgias plásticas no Brasil. No entanto, um estudo do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) revela o tamanho do problema. A pesquisa realizada entre 2001 e 2008 mostra que 33% dos 289 processos estavam relacionados à lipoaspiração. Esses processos investigam denúncias de algum tipo de erro médico.
Um cirurgião capacitado para atender nesta área tem no mínimo 11 anos de experiência – incluindo a graduação e a residência médica, dois anos de especialização em cirurgia geral e mais três em cirurgia estética e reparadora. O médico tem a responsabilidade de fazer todos os exames para garantir que a saúde do paciente esteja boa e evitar riscos. O paciente, por sua vez, deve procurar um médico qualificado e não se deixar levar por promoções absurdas.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Seção Paraná (SBCPPR), César Milleo, muitas vezes a morte não ocorre em função da lipoaspiração, o que provoca confusão. Ele cita como exemplo casos de pessoas que tiveram uma alergia à anestesia e faleceram. “Isso ocorreria em qualquer outro procedimento, até nos mais simples”, argumenta. Em outras situações, a alergia estava relacionada a algum medicamento do pós-operatório.
Parcelamento
Outra questão que vem dando dor de cabeça aos cirurgiões é a atuação de financiadoras que parcelam as cirurgias. Elas oferecem os serviços com parcelamento em várias vezes, e buscam profissionais menos qualificados para aumentar o lucro. “Não adianta acreditar em milagre. Os custos são altos na medicina”, diz Milleo. O coordenador do simpósio internacional, o cirurgião Ewaldo Bolívar, tem a mesma opinião de César Milleo. “Se um anestesista custa um certo valor e alguém oferece pela metade, o paciente tem de desconfiar. Não adianta confiar em um cirurgião da esquina porque a melhor amiga disse que ele é bom”, alerta.
Casos recentes
Nos últimos meses, pelo menos cinco casos chamaram a atenção para os perigos de uma lipoaspiração feita sem cuidados:
Janeiro de 2010 – a jornalista Lanusse Martins, 27 anos, faleceu na mesa de cirurgia, vítima de uma embolia pulmonar. Ela fez a lipo em uma clínica de Brasília.
Julho de 2009 – Ana Paula dos Santos, 31 anos, passou por uma lipoaspiração e prótese de silicone em Londrina e morreu após ficar cinco dias na UTI.
Junho 2009 – Maria Aparecida dos Santos Eugênio, 29 anos, morreu em Guarulhos (SP), vítima de parada cardiorrespiratória.
Março de 2009 – A dona de casa Adriane Mabi, 35 anos, morreu por infecção generalizada em São Paulo uma semana após fazer uma lipo.
Fevereiro de 2009 – A recepcionista Regiane Bauer, 27 anos, teve uma parada cardiorrespiratória e faleceu quando fazia uma lipoaspiração em uma clínica.
Cirurgiões sugerem cuidados básicos
A lipoaspiração é uma cirurgia que retira a gordura do indivíduo por meio de uma aspiração com alta pressão. A recomendação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) é que a quantidade de gordura retirada seja de, no máximo, 7% do peso do paciente. Estudos mostram que quantidades acima desse valor já oferecem riscos, e os médicos são proibidos de retirar mais material, embora haja pacientes que peçam por isso.
O primeiro passo para quem está em busca de uma lipoaspiração é verificar se o médico é filiado à SBCP. Isso, por si só, já garante que o profissional é qualificado. O segundo passo é exigir que a cirurgia seja feita em um hospital, que pode oferecer garantias de segurança, como unidades de terapia intensiva (UTIs).
O cirurgião Andre Auersvald pede a seus pacientes um check-up completo. “Fazemos uma avaliação completa do perfil, desde a parte neurológica até a cardiológica. Se não há condições de fazer a lipo, não fazemos”, diz. Ele acrescenta que é responsabilidade do médico pedir estes exames e checá-los. Para Iberê Condeixa, a lipo chegou ao Brasil na década de 80 ainda prematura e não havia uma técnica madura, por isso ocorriam problemas. “A lipoaspiração acabou ficando com a má fama”, diz.
Fonte: Gazeta do Povo
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.