Futuras mães temem relação do Vírus da Zika com a doença.
Médico disse que deve haver orientação do conselho sobre como proceder.
A preocupação sobre a relação do Vírus da Zika com a microcefalia está levando mulheres que desejam engravidar a congelar seus embriões e a atrasar o processo de fertilização. Muitas moradoras do Espírito Santo que já faziam tratamento nas clínicas especializadas decidiram esperar para implantar o óvulo fecundado no útero e, assim, engravidar.
“A maioria está optando por esta situação. Orientamos a esperar de quatro a seis meses, até que passe o verão e o período de chuvas, quando se espera que a epidemia esteja mais baixa”, explicou o médico especializado em reprodução humana Jules White.
Ele disse ainda que, nesse tempo, a expectativa é que se tenha uma definição melhor do Conselho Federal de Medicina sobre como proceder na orientação às mulheres que desejam engravidar.
“Quando apareceram os casos aqui fiquei com medo e disse ao médico que faria o tratamento até a coleta dos óvulos e que queria que os embriões fossem congelados”, disse uma paciente que prefere não se identificar.
A mesma situação tem acontecido com as pacientes do médico Carlyson Moschen, mas, em sua clínica, elas são a minoria. “Há mulheres que já estavam em tratamento e preferiram não transferir o embrião e deixar guardado”, comentou.
Ele destaca que as que optaram por implantar o óvulo fecundado recebem uma orientação para prevenção contra o zika. “Tem que conversar, saber se onde mora é uma zona de foco de casos de Vírus Zika, ou mesmo no local em que a pessoa trabalha”, explicou.
Nesses casos, quando a futura mãe assume a possibilidade e faz a fertilização, é preciso tomar precauções básicas, como usar repelente e colocar tela nas janelas. Como o horário que o mosquito mais trafega é no início da manhã e no final da tarde, é quando a mulher tem que estar mais protegida.
Situação delicada
A situação, entretanto, é bastante delicada, já que muitas mulheres que buscam a fertilização prepararam toda a vida para engravidar em determinado momento e há as que já se aproximam dos 40 anos, quando diminuem as chances de a reprodução assistida vingar.
Moschen ressalta que existem muitas incógnitas sobre essa questão e que, apesar das evidências, ainda não está comprovada a relação do zika vírus com a microcefalia nos recém-nascidos.
“Se dizemos que a recomendação é não engravidar, há várias perguntas. Quando terão segurança para recomendar a gravidez? Haverá mais casos daqui a alguns meses ou vão diminuir? Quando teremos um controle do mosquito? Por isso conversamos bastante sobre a situação para tomar uma decisão conjunta sobre quando engravidar” explicou.
“Não se pode restringir o direito da reprodução”
Em um momento em que as dúvidas tomam conta das entidades de saúde e, consequentemente, das mulheres que querem ser mães, entra em voga a discussão sobre a recomendação de engravidar ou não. “Não se pode restringir o direito da reprodução”, defendeu o infectologista Crispim Cerutti Junior.
Ele alerta que é complicado postergar a gravidez baseando-se nos riscos, já que não há certeza sobre eles. “É muito difícil dimensionar, há muitas perguntas sem respostas. Não existe clareza sobre qual é a porcentagem de mulheres grávidas afetadas. E, aparentemente, o risco é no primeiro trimestre, mas isso não é claro”, destacou o médico.
A verdade, destaca o especialista em fertilização Carlyson Moschen, é que não se sabe quando o surto irá diminuir. “Não sabemos quando esse quadro vai melhorar”, ressaltou.
Além disso, esperar que uma solução como a vacina contra o zika vírus aconteça é muito incerto, apesar de o Brasil e os Estados Unidos terem firmado parceria para apresentar a medicação em até três anos e o Instituto Butantan afirmar que estudará se sua vacina contra a dengue pode ser pentavalente, protegendo contra os quatro tipos de dengue e também a zika, com resultados para daqui a um ano.
“Para liberar uma medicação para uso é um longo processo, que dura de quatro a cinco anos. Tem que testar e verificar se não causa danos em várias etapas”, alerta Cerutti.
“Vou esperar até passar o verão”, paciente de fertilização, de 39 anos
“Quando iniciei o tratamento no ano passado não tinha essa história de zika e microcefalia ainda. Logo depois, começou no nordeste e continuei o processo, sem imaginar que chegaria ao Espírito Santo. Quando apareceram os casos aqui fiquei com medo e disse ao médico que faria o tratamento até a coleta dos óvulos e que queria que os embriões fossem congelados. Vou esperar passar o verão, que é a época mais crítica. Devo fazer a fertilização em abril ou maio, quando começa a esfriar e os mosquitos se proliferam menos. Tenho conhecidas que também estão fazendo o tratamento e tomaram a mesma decisão.”
Fonte: G1/Espírito Santo
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.