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Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico, Odontológico e da Saúde (FMRP-USP). Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado do curso de Bioética e Biodireito do HCor. Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Má formação do profissional ou lapso de memória? Saiba o que causa erros de medicação em pediatria

Entenda os principais motivos para que a pediatria seja uma das mais suscetíveis a eventos adversos relacionados a erros de medicação no ambiente hospitalar

Qualquer evento adverso que envolva pediatria ganha automaticamente caráter mais delicado para profissionais e familiares. A administração de medicamentos, contempla processos fundamentais que estão suscetíveis a erro: a prescrição, a dispensação, o preparo e a administração.

No entanto, existem fatores particulares dessa especialidade que podem resultar em erro, como a diferença grande de idade entre os pacientes e, consequentemente, o ajuste necessário nas doses, entre outros.

O processo de administração de medicamentos em serviços de saúde envolve desde a compra e definição de medicamentos a ser padronizados, passando pela prescrição médica (com dose, frequência, via e forma de administrar o medicamento ao paciente), a dispensação do medicamento pelo farmacêutico, e enfim o preparo e administração pela equipe de enfermagem. Portanto, “erro de medicação” refere-se a qualquer evento evitável que ocorra ao longo de todas as etapas deste grande e complexo processo.

“Estima-se que cerca de 30% dos danos durante a hospitalização estão associados a erros na medicação, os quais trazem, também, sérias consequências econômicas às instituições de saúde”, comentam as profissionais do Hospital Albert Einstein, a Dra. Marta Pessoa Cardoso, médica CTIP e consultora médica do Gerenciamento e Vigilância do Risco; e Aline Gomes da Costa, enfermeira do Gerenciamento e Vigilância do Risco.

Estudo norte-americano
Um estudo realizado nos Estados Unidos revela que cada paciente internado em hospital norte-americano está sujeito a um erro de medicação por dia, sendo registrados anualmente, nessas instituições, no mínimo 400.000 eventos adversos evitáveis relacionados a medicamentos. Dados desse país, mostram que os erros de medicação em hospitais provocam mais de 7.000 mortes por ano.

Considerando-se exclusivamente a população pediátrica, uma pesquisa evidenciou 5,7% de erros de medicação em cerca de 10.000 prescrições analisadas. Segundo a maioria das estatísticas, erros de medicação com potencial de gravidade têm 3 vezes mais probabilidade de ocorrer em pacientes pediátricos internados do que em adultos. A maior incidência ocorre nas crianças com até dois anos de idade.

“De forma geral, há dificuldade em se estabelecer um cenário mundial e nacional, sobre ocorrência de erros de medicação em pediatria, pois as pesquisas utilizam metodologias diferentes, dificultando uma estimativa exata”, diz a Dra. Marta.

“Além disso, nem todo serviço de saúde dispõe de um sistema estruturado de notificação de eventos, e mesmo naqueles que dispõe desse recurso, nem todo evento é notificado. Essa limitação se impõe não apenas para dados pediátricos, mas para estatísticas de eventos adversos em serviços de saúde de forma geral”, completa a enfermeira Aline.

Tipo de erro
Erros de medicação podem ocorrer em qualquer serviço de saúde e em qualquer faixa etária. Na faixa etária pediátrica, existem várias particularidades que fazem com que todo o processo de medicações se torne ainda mais crítico.

De acordo com uma revisão recente de estudos científicos publicados na última década, envolvendo pacientes de zero a 16 anos, as etapas com maior taxa de eventos são a prescrição e a administração do medicamento. Nos dois momentos, pode-se destacar como evento mais comum o erro em relação à dose do medicamento.

“Em primeiro lugar, o espectro de idade é muito amplo (recém-nascidos até adolescentes) e, portanto, as doses administradas para um mesmo medicamento variam proporcionalmente. Como as doses são baseadas na idade e peso da criança, a prescrição e o preparo de medicamentos tipicamente envolvem mais cálculos quando comparados aos mesmos procedimentos em pacientes adultos”, diz Dra Marta. “Além disso, crianças pequenas não têm o recurso da comunicação para alertar sobre potenciais erros que possam ser detectáveis, ou sobre eventos adversos que possam apresentar”, fala Aline.

Considerando aspectos relacionados aos profissionais de saúde, as falhas envolvendo cálculo de doses, seja na prescrição ou na administração de medicamentos, podem ser atribuídas tanto à formação técnica do profissional, quanto a fatores comportamentais (desatenção, lapso de memória, pressa, fadiga).

Outros fatores contribuintes para erros de medicação, não inerentes apenas à pediatria, podem ser citados, como ausência de regras para armazenamento seguro de medicamentos, sistemas de dispensação coletivos, ilegibilidade em prescrições, desconhecimento de doses terapêuticas, e/ou da ação do fármaco, medicamentos visualmente semelhantes, medicamentos com som de pronúncia e grafias semelhantes, ausência de conferência de itens (nome do paciente, nome do medicamento, por exemplo), e aspectos ambientais que podem interferir na atenção do profissional (ruídos, interrupções e excesso de atividades).

Como evitar esses erros?
Sabe-se que múltiplos fatores contribuem para ocorrências de erros de medicação, não existindo uma única forma de se evitar tais incidentes. É importante que cada instituição reconheça a problemática e busque as melhores práticas reconhecidas em literatura e que sejam aplicáveis a seu contexto, envolvendo sempre todos os profissionais que atuam no processo de medicamentos.

Várias estratégias contribuem para minimizar a possibilidade de erros de medicação de forma geral (incluindo os erros de dose):
– Educar permanentemente sobre medicamentos e práticas profissionais. Em pediatria, cabe ressaltar a importância de treinamento e validação de cálculos; reforço sobre aspectos particulares de farmacologia e da fisiologia pediátrica;
– Garantir a verificação de itens como nome do paciente, medicamento, dose, via e horário do medicamento (5 certos);
– Implantar dupla-checagem, automatizada ou manual, de modo independente;
– Dispensar medicamentos prontos para uso (dose unitária);
– Viabilizar atuação de farmacêuticos como educadores da equipe e como profissional que impede ocorrências, por ex. através de análises críticas de prescrições médicas;
– Criar estratégias para redução de erros humanos/ comportamentais;
– Monitoramento de indicadores de notificação de erros de medicação e auditorias das diversas fases do processo de medicamentos, identificando, assim, novas oportunidades de melhoria com abordagem sistêmica.

Fonte: IBSP