Jornalista do grupo Folha de Pernambuco teve parte do nariz necrosada após aplicação mal sucedida de ácido hialurônico durante procedimento estético
O que era para ser um procedimento estético simples, realizado momentos antes da tão sonhada viagem de férias, tornou-se um problema sério de saúde e um alerta para quem procura por preenchimentos faciais. A jornalista Priscilla Aguiar, editora adjunta do Portal Folha PE, recebeu alta médica após passar 11 dias internada. O tratamento dermatológico aplicado para neutralizar um procedimento mal sucedido com ácido hialurônico no nariz dela, no entanto, se estenderá por até três meses. O caso envolvendo Priscilla, que procurou uma profissional biomédica em Olinda, está sendo apurado pelo Conselho Regional de Biomedicina (CRB), após grande repercussão nas redes sociais.
O resultado do procedimento traz à tona um questionamento: qual o profissional estaria mais apto para realizar preenchimentos com fins estéticos? “Iniciamos o processo das diligências, onde será feita toda apuração do que ocorreu. Nesse primeiro momento vamos fazer uma fiscalização e a partir dos relatórios finais é que vamos saber quais providências podemos tomar”, afirmou a gerente do CRB, Letícia Lima. O procedimento foi realizado no dia 26 de abril e em vez de injetar o produto na pele, a biomédica atingiu um vaso sanguíneo.
“Procurei essa profissional para fazer um peeling. Gostei do trabalho dela e vi que no seu consultório tinha outras máquinas de estética. Ela comentou sobre a aplicação do ácido hialurônico. Na hora, ela me passou muita confiança, disse que não havia riscos e com três dias eu estaria recuperada”, relembra Priscilla. De acordo com a dermatologista Gleyce Fortaleza, que hoje cuida da paciente, de imediato poderia ter sido notada que a técnica não foi bem sucedida. “O ácido hialurônico é um gel que ao ser injetado diretamente no vaso sanguíneo termina provocando a morte daquela região, o que ocasiona a necrose. Logo após o procedimento estético havia sinais visíveis de que algo deu errado. A pele ficou esbranquiçada, um sinal clássico nesses casos”, explicou a médica.
A jornalista contou que foi trabalhar no dia seguinte normalmente, mas em seguida passou a sentir dores e foi quando buscou apoio da profissional. Contudo, só conseguiu se comunicar com a secretária da biomédica. “Mandei fotos e questionei se estava tudo normal, já que ela me disse que em três dias eu estaria recuperada. A indicação foi, então, para colocar gelo”, disse. Essa recomendação, entretanto, foi outro equívoco cometido pela profissional já que o gelo contrai os vasos já obstruídos. Três dias após tratamento estético, Priscilla Aguiar deu entrada na emergência de um hospital particular de Olinda com o nariz necrosado e com uma infecção grave, correndo o risco inclusive de ficar cega. “Um profissional habilitado e experiente tem que estar preparado para caso o procedimento estético não ocorra como o esperado. Ela poderia ter usado a enzima hialuronidase para reverter o processo. Para se ter uma ideia, esse procedimento é tão sério, que na emergência eles não tinham essa enzima, eu tive que buscar em meu consultório para aplicar”, explicou Gleyce.
Apesar do trauma, Priscilla resolveu compartilhar sua experiência nas redes sociais como forma de alerta. “Não queria me expor. Já me julguei muito por ter optado pelo procedimento de forma impulsiva, sem conhecimento e pesquisa. Mas tenho muito medo de ouvir que alguém passou por essa situação e não teve a minha sorte e assistência médica”, ressaltou no post.
Qual profissional pode fazer o procedimento?
A disputa sobre quem deve ou não realizar o tratamento estético é complexa. A lei 12.842/2013 diz que a execução de procedimentos estéticos invasivos sejam diagnósticos, terapêuticos ou estéticos, são de competência médica. “Antes só dermatologistas e cirurgiões plásticos poderiam fazer esse procedimento. Atualmente, biomédicos, farmacêuticos e dentistas também estão autorizados. Mas há muitas modificações, várias liminares surgem a cada semana”, disse Gleyce Fortaleza.
Segundo a médica, o mais importante nisso é levar em consideração a competência do profissional mesmo que ele esteja autorizado a realizar esse tipo de procedimento estético. “Há 10 anos esses preenchimentos estéticos não tinham a procura que tem hoje, o mercado cresceu muito. O que aumenta também o número de profissionais despreparados e descompromissados com as pessoas”, criticou.
A equipe médica envolvida no caso têm se surpreendido com a resposta de Priscilla Aguiar aos tratamentos. Ela realizou sessões de Oxigenoterapia Hiperbárica e continuará com o uso de antibióticos. No próximo dia 20 uma nova avaliação será feita para saber se ela precisará passar por cirurgia plástica, ou se submeterá ao uso de laser. As sequelas ainda não podem ser definidas. A biomédica continua atendendo em seu consultório estético normalmente.
Fonte: https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/cotidiano/2018/05/14/NWS,68188,70,449,NOTICIAS,2190-FALHA-TRATAMENTO-ESTETICO-COM-ACIDO-HIALURONICO-APURADA.aspx
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.