O Sindicato dos Médicos da Paraíba (Simed-PB) denunciou nesta segunda-feira (13), que furadeiras de parede continuam sendo usadas em cirurgias no maior hospital da Paraíba, o Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, em João Pessoa. De acordo com o presidente do Simed, Tarcísio Campos, apesar de a primeira denúncia ter sido feita há cinco meses, em setembro de 2011, o problema persiste.
Segundo Campos, a furadeira de parede é utilizada sempre que o fluxo de pacientes aumenta no hospital. “Isso é mais comum nos finais de semana”, afirmou Campos. O médico informou que, na semana passada, a furadeira teve de ser usada em uma cirurgia ortopédica. "No dia 16 de janeiro e em vários outros dias", afirmou.
O médico disse que amanhã os representantes do sindicato vão entregar uma solicitação de fiscalização ao Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB). "Algo precisa ser feito com urgência. Vamos entregar um relatório contendo dia, hora e ocasião em que as furadeiras de parede foram usadas", declarou.
De acordo com o médico, após a denúncia feita no ano passado, algumas furadeiras cirúrgicas foram adquiridas, porém em quantidade insuficiente. "Quando a demanda é alta, geralmente não dá tempo de esterilizar os equipamentos, e o jeito deles é usar as furadeiras de parede, mesmo."
Quando perguntado sobre o porquê de os médicos usarem a furadeira, mesmo sabendo dos riscos, Campos afirmou: "Os profissionais não têm alternativa". Ele disse que se chega um paciente com fratura exposta, o médico não pode se recusar a fazer a cirurgia, sob pena de provocar um dano maior. De acordo com o sindicato, a situação no Hospital de Trauma está no limite. "Se é mentira, por que não apresentam as furadeiras cirúrgicas à imprensa?", disse o presidente do Simed.
Outro lado
Para a direção da unidade hospitalar, as denúncias são infundadas. Em nota, a Secretaria de Saúde garantiu que o Trauma continua em pleno funcionamento. "Os médicos que trabalham no Hospital de Trauma são pessoas sérias, por isso não admitimos que factóides deturpem a imagem desses profissionais que trabalham noite e dia para salvar vidas", afirmou o diretor de assistência, Edvan Benevides.
Ainda de acordo com o diretor, são usadas furadeiras cirúrgicas para procedimentos ortopédicos. O Trauma teria dois craniótomos e três trépanos, usados para abertura da calota craniana. A organização social Cruz Vermelha, responsável pela administração do Trauma, informou que vai acionar o autor das denúncias na Justiça e que as câmeras do bloco cirúrgico ficarão à disposição do CRM-PB para ajudar na investigação.
MP e CRM
O presidente do CRM-PB, João Medeiros, disse que ficou surpreso com a denúncia. "Desde que o caso veio à tona no ano passado, tínhamos a convicção de que o problema tinha sido resolvido", declarou. Uma fiscalização deve ocorrer nos próximos dias para averiguar a veracidade da denúncia.
Medeiros disse também que o uso das furadeiras de parede em cirurgias só é admitido em situações emergenciais. "É um aparelho muito limitado, que já foi usado no passado, mas hoje não deve não deve ser mais utilizado." O promotor da Saúde João Geraldo informou que o Ministério Público ingressou com uma ação civil pública em setembro de 2011, pelo uso das furadeiras. "Se estão sendo usadas novamente, até agora não recebeu nenhum comunicado oficial, mas o MP está vigilante."
Fonte: UOL
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.