Pesquisadores dizem que mesmo quando as informações são armazenadas em bancos sigilosos, é possível descobrir quem são os voluntários
Usando apenas um computador com acesso à internet, uma equipe de pesquisadores do Instituto Whitehead, em Cambridge, conseguiu identificar aproximadamente 50 indivíduos que submeteram o material genético para estudos científicos. Preocupados com a privacidade de participantes de pesquisas que envolvem o DNA, eles confirmaram que, mesmo quando as informações são armazenadas em bancos de dado sigilosos, é possível descobrir quem são os voluntários. “Esse é um importante resultado, que aponta para potenciais falhas na manutenção da privacidade em estudos genômicos”, disse Yaniv Erlich, principal autor do artigo, publicado na revista Science.
A equipe de Erlich começou analisando marcadores genéticos únicos que se repetem no cromossomo Y de homens cujo DNA foi coletado pelo Centro de Estudo do Polimorfismo Humano, conhecidos como Y-STRs. Eles também investigaram a identidade por trás de 100 amostras que foram sequenciadas e tornadas públicas pelo Projeto Genoma. Como o cromossomo Y é transmitido de pai para filho, da mesma forma que o sobrenome das famílias, há uma forte relação entre o sobrenome de uma pessoa e o DNA contido no cromossomo Y.
Reconhecendo essa ligação, companhias de genealogia e genealogia genética têm oferecido acesso público a bancos de dados que armazenam Y-STRs identificados pelo sobrenome do doador do DNA. Em um processo conhecido como inferência de sobrenome, a equipe de Erlich conseguiu descobrir o nome de família dos homens que submeteram seu Y-STRs a esses bancos de dados. Com os sobrenomes em mãos, os pesquisadores foram atrás de outras fontes de informação, como buscadores da internet, obituários, sites genealógicos e dados demográficos públicos do Instituto Nacional de Ciências Médicas de Nova Jersey. Dessa forma, conseguiram identificar quase 50 homens e mulheres que tiveram os genomas sequenciados pelo Centro de Estudo do Polimorfismo Humano.
“O que mostramos é que, por exemplo, se seu tio mandou o seu DNA para um banco de dados de genealogia genética, você pode ser identificado”, disse Melissa Gymerk, primeira autora do artigo da Science. “Na verdade, mesmo o seu primo de quarto grau, que você nunca conheceu, pode identificar você se o DNA dele estiver no banco de dados, desde de que o parentesco de vocês venha da linhagem paterna.” De acordo com Erlich, os pesquisadores precisam informar os participantes de estudos de que a privacidade deles pode ser violada. “Também esperamos que nosso artigo resulte em algoritmos de segurança melhores, assim como um incremento na legislação, que ajude a mitigar alguns dos riscos descritos”, concluiu.
Fonte: Correio Braziliense