sexta-feira, 1 de abril de 2011

Hospital de Taguatinga tem mais de 90 pacientes na enfermaria

A insistência da equipe de reportagem em entrar causou constrangimento. Parte do hospital está em reforma, e os pacientes se apertam na emergência. Há remanejados pelos corredores, em macas e bancos.

A porta do maior hospital público da capital do país é um termômetro de como anda a saúde em alguns estados e municípios. No Hospital de Base, a ambulância é símbolo dos que desistiram ou simplesmente nunca tiveram a capacidade de cuidar dos seus cidadãos. A doméstica Maria Alcina chega de Minas para o hospital em Brasília e revela: “lá não tem recurso para a gente. Lá é atrasado ainda”.

Mesmo sendo um hospital grande e bem equipado, o resultado é a superlotação. No Hospital de Base, as macas se multiplicam nos corredores.

O sofrimento dos retirantes da saúde só diminui, quando, mesmo demorado, o atendimento chega ou quando encontram um médico com “m” maiúsculo. Foi o que aconteceu com uma senhora que veio de Águas Lindas trazendo o marido que sofreu um derrame. “A doutora de lá foi dez. O pai dela é neurologista, neurocirurgião há 33 anos. Ela ligou para ele na ambulância, e ele a instruiu o tempo todo”, conta.

Nos hospitais lotados, há médicos trabalhando duro. “Nós aqui fazemos o atendimento da área interna que são os pacientes internados e os pacientes da área externa que são os pacientes que vêm da comunidade para cá. Deve ter sido uma média de uns 60 pacientes, mais ou menos, desde 13h”, revela o médico Marcelo Callegário.

Era começo da noite quando chegamos ao Hospital de Taguatinga, na periferia de Brasília. Nossa insistência em entrar e mostrar a situação causou constrangimento.

Parte do hospital está em reforma, e os pacientes vão se apertando na emergência. “Esse espaço foi programado para atender somente duas pessoas. São macas que chegam até a gente conseguir remanejar”, informa a diretora do Hospital Regional de Taguatinga, no DF, Sônia Maria Salviano.

Há remanejados pelos corredores, em macas e bancos. “Eu me sinto muito humilhada, porque a gente paga os imposto direitinho”, critica uma senhora.

Mas nada se compara ao que encontramos na área da internação. A sensação foi a de entrar em um hospital de campanha, em um campo de guerra.

“Aqui, internos, nesse momento, nós temos 92 pacientes. A gente faz uma barreira quase que virtual: uma ala feminina e uma ala masculina. Mesmo estando muito cheio a gente não proíbe que os visitantes entrem, que a família dê apoio, porque isso é fundamental nesse momento de dor”, declara a diretora do Hospital Regional de Taguatinga, no DF, Sônia Maria Salviano.

Mas o conforto dado pelos parentes não aplaca a revolta. “A situação é uma calamidade. É uma coisa de fazer vergonha, não existe isso. O Distrito Federal diz que é a capital do Brasil com uma pouca vergonha dessas. Isso é uma imundice”, critica a dona de casa Maria das Dores Araújo.

Tudo isso acontece bem ao lado dos hospitais inacabados, onde o dinheiro da saúde vai escorrendo pelo ralo.

Fonte: G1