Há um défice na intervenção do doente nas decisões sobre o seu tratamento, conclui estudo nesta terça-feira apresentado em Lisboa.
A excessiva medicalização e a curta duração das consultas são dois dos principais factores que se opõem à capacitação do doente para a tomada de decisões, conclui um estudo do think-tank “Saúde que Conta” divulgado nesta terça-feira.
A investigação, coordenada pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), procurou avaliar o grau de participação do doente nas tomadas de decisão clínicas que lhe dizem respeito e a sua capacidade para dialogar e intervir num processo de escolha e negociação da terapêutica. As doenças cardiometabólicas, como diabetes, doença cardíaca e hipertensão, foram o foco do estudo.
A escolha clara pela prescrição em detrimento de outras formas complementares à terapêutica é um dos factores que o estudo identifica como barreira à decisão partilhada entre médicos e doentes.
"A participação das pessoas nas decisões médicas é fundamental. O tratamento não é só a terapêutica — é a terapêutica e, cumulativamente, os seus estilos de vida", afirma Ana Escoval, professora na ENSP e coordenadora do projecto, referindo-se a comportamentos preventivos em que o indivíduo assume um papel activo de prevenção.
Outros factores são a curta duração das consultas — que reduz o tempo de diálogo e interacção entre o médico e o doente e de partilha de informação e opiniões — e a insuficiência de competências comunicacionais por parte dos médicos, que nem sempre se conseguem explicar de uma forma que seja clara para os doentes. Como consequência, muitas vezes os doentes têm dificuldade em compreender as instruções dadas pelo médico e acabam por não expor as dúvidas por vergonha.
“Quando o doente está interessando em saber, a nossa preocupação deve ser a de comunicarmos exactamente numa formulação que ele compreenda para poder decidir, dar-lhe informação que compreenda para decidir bem", acredita António Vaz Carneiro, do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência, que participou no painel de discussão da apresentação. "Temos de falar também naquilo que é um aproximar da linguagem para as pessoas — sabermos comunicar e garantir uma co-decisão das responsabilidades das pessoas", concorda a coordenadora do estudo.
“Doentes mais informados morrem menos”
Mas a barreira comunicacional não é unilateral. O estudo evidenciou também uma falta de conhecimento de base em matérias de saúde por parte dos cidadãos e um fornecimento insuficiente da informação clínica ao utente, também elas dissuasoras da capacidade do doente em tomar decisões informadas e de ser interventivo nas decisões sobre o seu tratamento. "Os doentes mais bem informados morrem menos e utilizam os recursos de uma maneira mais lógica, racional e eficaz", garante António Vaz Carneiro.
Uma das temáticas abordadas na apresentação — onde estiveram, além de vários profissionais de saúde, as deputada Teresa Caeiro (CDP-PP) e Maria de Belém Roseira (PS) — foi a disponibilização de conteúdos médicos na Internet, facilmente consultados para descobrir qual o significado de determinados sintomas, mas que nem sempre são claros e objectivos. É por esta razão, e pela falta de uma fonte de informação fiável, que António Vaz Carneiro defende que "os políticos deviam facilitar a criação de um sistema de informação de saúde" que fosse público "para não haver conflitos de interesse" e "para que as pessoas olhem para aquela informação como sendo credível".
Esta é uma das medidas que o estudo propõe para eliminação das barreiras identificadas. Do rol de soluções com melhor probabilidade de execução fazem também parte a produção e validação de conteúdos informativos da área de saúde por entidades competentes, a inclusão de programas gerais e locais de educação para a saúde, com especial enfoque nas escolas, e uma aposta na formação dos utentes e profissionais de forma a melhorar a comunicação. É também proposto um reforço da divulgação, nos meios de comunicação, de informação de saúde actualizada e credível.
No final da apresentação do estudo, foi anunciado que será apresentado à Comissão Parlamentar de Saúde, em parceria com a Universidade de Maastricht, uma proposta para realizar em Portugal o relatório europeu de Literacia em Saúde, de forma a perceber qual é efectivamente o grau de informação e compreensão dos portugueses nesta área.
Fonte: www.publico.pt
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- MARCOS COLTRI
- Advogado. Especialista em Direito Médico e Odontológico. Especialista em Direito da Medicina (Coimbra). Mestre em Odontologia Legal. Coordenador da Pós-graduação em Direito Médico e Hospitalar - Escola Paulista de Direito (EPD). Coordenador ajunto do Mestrado em Direito Médico e Odontológico da São Leopoldo Mandic. Preceptor nos programas de Residência Jurídica em Direito Médico e Odontológico (Responsabilidade civil, Processo ético médico/odontológico e Perícia Cível) - ABRADIMED (Academia Brasileira de Direito Médico). Membro do Comitê de Bioética do HCor. Docente convidado da Especialização em Direito da Medicina do Centro de Direito Biomédico - Universidade de Coimbra. Ex-Presidente das Comissões de Direito Médico e de Direito Odontológico da OAB-Santana/SP. Docente convidado em cursos de Especialização em Odontologia Legal. Docente convidado no curso de Perícias e Assessorias Técnicas em Odontologia (FUNDECTO). Docente convidado de cursos de Gestão da Qualidade em Serviços de Saúde. Especialista em Seguro de Responsabilidade Civil Profissional. Diretor da ABRADIMED. Autor da obra: COMENTÁRIOS AO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA.